Hillary Clinton não é a “moderada” que a mídia pinta, mas uma radical inspirada no ainda mais radical Saul Alinsky
Os Estados Unidos nunca tiveram dois candidatos tão fracos disputando a vaga ao cargo mais poderoso do planeta. Isso já era visível, mas ficou ainda mais durante o primeiro debate ocorrido esta semana entre os dois. É verdade que debates são shows para indecisos, e tudo que importa é a “linguagem corporal”, a aparência de “presidenciável”. Mas mesmo assim foi assustador.
Não há substância alguma, proposta razoável, aprofundamento de ideias. Se Trump se limita a repetir slogans como “fazer a América grande novamente”, Hillary não fica atrás: posa de defensora dos pobres e das “minorias oprimidas” contra os ricos da elite branca, sendo ela uma multimilionária loira de olhos azuis que navega pelo poder há décadas. É sensacionalismo de um lado, demagogia do outro.
Se Trump achou um bode expiatório para os problemas americanos – a globalização – e apresenta sua milagrosa receita – o mercantilismo ultrapassado –, Hillary também tem o inimigo certo – as elites ricas – e puxa da cartola receita igualmente fantástica – taxar mais os ricos para sua “justiça social”. É protecionismo nacionalista de um lado, marxismo tosco do outro. Narcisista bufão num canto, mentirosa contumaz no outro.
Os conservadores tradicionais estão tendo muita dificuldade em apoiar Trump. Não é só seu estilo que incomoda: são também suas ideias. Para quem já teve Reagan como presidente e Mitt Romney como candidato, é um pouco desesperador ter de ir com Trump. Ele faz de tudo para se colar na imagem de Reagan, mas, em que pese alguma semelhança – ambos eram ridicularizados pela mídia e pelos intelectuais –, as diferenças são gritantes. Reagan tinha valores mais sólidos, uma história de luta por esses valores, tinha sido governador, e era um ardente defensor do livre comércio. Trump é um outsider, o que tem sido uma vantagem hoje em dia, com a população saturada do establishment em Washington, mas lhe falta o mínimo de experiência e conhecimento acerca do funcionamento da máquina estatal. E seu discurso geopolítico é isolacionista, o que poderia levar a uma guerra comercial.
Não obstante, muita gente séria tem declarado apoio ao candidato republicano. Por quê? Apesar do receio que Trump desperta nessas pessoas, não é tão difícil entender o motivo. E ele se chama Hillary Clinton. Nenhum liberal clássico ou conservador de boa estirpe se empolga para valer com Trump. Mas a questão é simples: a alternativa é ainda pior. Hillary representa o que há de mais podre na política americana.
Pela imprensa brasileira o leitor nunca ficaria sabendo daquilo que muitos americanos, com acesso a canais como a Fox News e vários jornais, sites e estações de rádio conservadores sabem: Hillary não é a “moderada” que a mídia pinta, mas uma radical inspirada no ainda mais radical Saul Alinsky, alguém que parece disposta a tudo pelo poder, que tem sede de controle e ambição desmedida.
Seus esquemas na Fundação Clinton demonstram uma perigosa simbiose entre poder e grandes empresários, algo que os latino-americanos conhecem bem. Sua retórica “progressista”, ainda pior que a de Obama, representa uma mudança fundamental em relação aos valores tradicionais que fizeram da América o que ela é hoje. Sua visão de mundo não tem absolutamente nada a ver com aquela que permitiu o progresso americano.
É por isso que um pensador sério como Thomas Sowell declara apoio a Trump, a quem ele detesta. Se o magnata “representa riscos múltiplos e potencialmente fatais”, a democrata é “a certeza da desgraça”. Concordo. Trump ao menos é um empreendedor de sucesso, enquanto Hillary representa os sanguessugas populistas no poder. Que venha o bufão. Talvez seu único trunfo seja mesmo Hillary Clinton. Dá calafrio só de pensar...
Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.
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