O Globo - 29/09
Se tudo acontecer como as pesquisas eleitorais indicam, as eleições municipais já têm um perdedor indiscutível, o PT, um vencedor provável, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e um derrotado indireto, o governo Temer, que inventou Marta ex-Suplicy como candidata alternativa em São Paulo.
Sua queda se deve mais às cinzas petistas do que à nova realidade peemedebista, embora seja mais fácil para ela atribuí-la à “herança maldita” de Temer, com suas reformas impopulares anunciadas em meio a uma algaravia de desinformações.
Na verdade, poucos a identificam com o governo Temer, mas os antigos 30% de eleitorado petista estão hoje divididos entre o PSOL de Erundina e a candidata do PMDB, que não conseguiu atrair a classe média para ampliar seu eleitorado.
O prefeito Fernando Haddad dificilmente conseguirá se recuperar da crise de sua própria gestão e de seu partido, perdendo eleitores na periferia para seus dois adversários mais bem colocados, João Doria e Celso Russomano.
O problema de Marta parece ser mais de inadaptação à sua nova posição no mercado eleitoral, uma questão de identidade. Já João Doria conseguiu encontrar o caminho do meio numa eleição que sempre foi polarizada na cidade de São Paulo entre direita e esquerda, ou o que sobrou delas, e tirou votos até do PT na periferia. E não teve competidores num eleitorado de classe média que é antipetista, papel que Marta tentou assumir ao dizer que nunca foi de esquerda. O governador Geraldo Alckmin emergirá dessa eleição fortalecido dentro do PSDB, mesmo que o candidato tucano de Belo Horizonte, João Leite, confirme o favoritismo.
Alckmin inventou Doria, e Aécio Neves sairá vencedor com Leite, mas não a ponto de ser atribuída a ele a vitória. O que Aécio fez em Belo Horizonte é o que melhor sabe fazer: costurar alianças políticas. Após a eleição, os dois duelarão dentro de suas características, e terão também que se livrar de acusações que os perseguem, Aécio na Operação Lava-Jato, Alckmin com as denúncias de corrupção em obras de governos tucanos em São Paulo.
De qualquer forma, tudo indica que o PSDB sairá fortalecido das eleições municipais, enquanto o PT sofrerá uma dura derrota. Só deve eleger um prefeito de capital, o de Rio Branco, e perderá a grande maioria dos prefeitos das cidades com mais de 200 mil habitantes. Deixará de ser o terceiro partido em prefeituras do país, com mais de 600, para começar praticamente do início.
PMDB e PSDB, que já eram os dois maiores partidos em termos de prefeituras, ganharão em número e em qualidade, especialmente os tucanos em São Paulo. No Rio de Janeiro, na reta final da eleição, a carta da religião está sendo jogada com toda a força contra a ascensão do bispo Crivella.
De um lado a Igreja Católica entrou na disputa para evitar ser usada por Crivella que, no afã de se blindar das críticas à Igreja Universal, anda distribuindo santinhos com uma foto sua e de dom Orani. De outro, os adversários que lutam entre si para chegar ao segundo turno tentam convencer o eleitorado de que a Igreja Universal está usando seus púlpitos como palanque. A internet está coalhada de vídeos de pastores da Universal pedindo aos fiéis que votem em Crivella.
A disputa pelo voto útil, tanto na esquerda quanto na centro-direita, terá um palco excelente no debate de hoje à noite na TV Globo, que se transformou no ponto crucial dessa campanha eleitoral para ver quem vai com Crivella para o segundo turno.
Na verdade, a divisão pode ser feita em três grupos: a turma do Prefeito Eduardo Paes, que apoia Pedro Paulo, a turma da esquerda, dividida entre Freixo e Jandira e lateralmente Molon, e a turma dissidente da Prefeitura, que luta contra os dois outros grupos, formada por Índio da Costa, Osorio, e mais remotamente, Bolsonaro.
É uma eleição fundamental para o PMDB, que não quer perder a prefeitura da segunda maior cidade do país para se manter em condições de disputar a presidência da República em 2018. O prefeito Eduardo Paes é um coringa importante nesse jogo eleitoral, e tenta recuperar um prestígio político que se desgastou devido à crise financeira que atingiu o estado do Rio, também governado pelo PMDB, e a erros pessoais que deveriam ter sido evitados, a começar pela escolha de um candidato pesado pelas controvérsias.
Pode ser que a máquina política e a ainda bem avaliada gestão na prefeitura levem Pedro Paulo ao segundo turno, mas a tarefa parece mais difícil do que imaginavam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário