A política deve entrar em ritmo municipal. Talvez o país preste atenção às eleições, daqui a menos de duas semanas.
O Congresso esvaziou-se de vez, em campanha nas cidades. Michel Temer viaja, depois de uma semana tentando arrumar a bagunça criada pelo seu próprio governo, como se antecipava aqui no domingo passado. O dia seguinte das eleições, outubro, porém, será quente.
Temer e seu círculo político se arranjam para vencer as votações e apaziguar conflitos. Disso depende a sobrevida útil do governo.
Não está em jogo apenas a aprovação do congelamento de gastos federais por 10 ou 20 anos, o "teto". Trata-se de satisfazer os governadores de Estados falidos ou alquebrados, dar milho ao Centrão, fiel da balança das votações, e reforçar pactos com os donos do dinheiro.
Temer "prestigiou" na semana passada os líderes do Centrão. Reforça explicitamente o poder de Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo, na distribuição de cargos, patentes e prebendas. Faz algo parecido com o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), expoente do Centrão. Lança um programa que gente no governo chama de "evangelização".
"Evangelizar" significa mandar pelotões avançados e poderosos do governo ao baixo clero, mas não só, a fim de convencê-los, com fatos e ideias, digamos, da necessidade de votar com o governo no outubro quente e "aprovar reformas". Recalcitrantes perderiam um lugar no céu do novo ministério, no ano que vem.
Em outubro ou novembro, vota-se, por exemplo, o projeto que permite aos governos a venda de dívidas que têm a receber (vendem os direitos, recebem algum, com desconto, mas recebem, de modo antecipado). É um modo de cobrir algum vazio dos caixas estaduais. Os governadores, muitos falidos, inevitavelmente, ora avançam com pedidos de dinheiro.
O governo espera também barrar as várias tentativas picaretas de mudar a já controversa lei de repatriação de dinheiro mandado para fora de modo ilegal. Parte desses recursos irá para os Estados. Mudanças na lei, afora o disparate de anistiar também políticos com dinheiro sujo no exterior, atrasariam o alívio do caixa de União e Estados.
Ficou para outubro a votação final da mudança na lei do pré-sal, que permite à Petrobras abrir mão de entrar em leilões de petróleo. Além de atrair investimentos, a aprovação faria a alegria do assim chamado, de modo meio tolo, "mercado".
Para completar um outubro de confraternização de governo e "mercado", espera-se ainda aprovar a lei da terceirização, agora que a "reforma trabalhista" ficou para as calendas.
Votar o Supersimples seria uma cereja nesse bolo. A atualização do programa permitiria a empresas com faturamentos maiores entrar nesse sistema de impostos menores, o que desagrada a economistas do governo, mas não ao governo.
No meio disso, pode haver acidentes: as grandes delações das empreiteiras, os conflitos da caçada a Lula, greves (a Petrobras vai enfrentar um conflito feio).
A aprovação do pacote do outubro quente, o bom início de tramitação do "teto" em particular, facilitaria o início da redução dos juros pelo BC. Seriam presentes de Dia da Criança (15 de outubro) para o governo. Derrotas antecipariam Finados.
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