ESTADÃO - 18/09
Lula foi um mito dentro e fora do Brasil, mas isso começou a ruir quando o discurso ético dele e do seu PT foi confrontado com o mensalão, em 2006
O cerco se fechou sobre Dilma Rousseff, depois sobre Eduardo Cunha e agora se fecha sobre Luiz Inácio Lula da Silva, num redemoinho que traga o PT e deixa o tabuleiro político de 2018 boiando. As peças estão soltas, ao sabor das ondas, da Lava Jato e do pavor do que ainda pode vir por aí.
Lula foi um mito dentro e fora do Brasil, mas isso começou a ruir quando o discurso ético dele e do seu PT foi confrontado com o mensalão, em 2006: Compra de votos? O PT não é diferente? Naquele momento, era quase uma heresia admitir o que hoje parece óbvio: seria muito difícil tudo aquilo ser arquitetado e operacionalizado dentro do Planalto sem que o presidente mandasse ou, no mínimo, soubesse. Até porque os grandes beneficiários do mensalão eram o governo e o próprio Lula, apesar de ele jurar que não viu, não ouviu, não sabia...
Dez anos depois de um aparelhamento desenfreado do Estado e de várias prisões, o MP mostra por palavras, gestos e organogramas que José Dirceu saiu do governo, mas o mensalão ficou e evoluiu para o petrolão, maior esquema de corrupção da história brasileira, capaz de jogar no chão a Petrobrás. Logo, concluíram, Dirceu não era o “chefe da quadrilha”, como disseram na época o procurador-geral da República e ministros do Supremo. Era só o “braço-direito” do “comandante máximo” da corrupção: Lula.
Independente da desolação do “nós”, da comemoração do “eles” e das críticas ao tom e à forma dos procuradores, essa história vai avançar pelo caminho jurídico, causando sérias consequências políticas. Lula, seus processos, sua eventual candidatura em 2018 e o destino do PT estão nas mãos do juiz Sérgio Moro, que pode ou não acatar a denúncia do MP, enquanto o PT continua sendo chacoalhado por más notícias.
Moro condenou José Carlos Bumlai, amigo de Lula, a 9 anos e dez meses de prisão, e a Polícia Federal indiciou o governador Fernando Pimentel, de Minas, que é o único troféu petista no “Triângulo das Bermudas” da política, já que o partido não tem São Paulo nem Rio. E, aliás, corre o risco de perder a capital de São Paulo, onde Fernando Haddad patina no quarto lugar, e é traço no Rio (com Jandira Feghali, do PC do B) e em Belo Horizonte, com candidato próprio. Lula afunda, o PT afunda.
Os seguidores de Lula repetem o que ele disse chorando: ele não é ladrão, não tem ambição, não é dono de triplex nem de sítio e está sendo vítima da direita enfurecida. O “golpe”, dizem, começou com o impeachment de Dilma para acabar com a prisão de Lula. Mas, longe dos microfones, há quem acrescente: o erro de Lula foi nunca ter comprado nada no nome dele e ter se acostumado a viver de favores de amigos, correligionários e, enfim, de empreiteiros que saqueavam a Petrobrás. Como se fosse um vício inocente: viver à custa dos outros. “Lula é assim”, perdoam.
Do outro lado, há entre os inimigos de Lula os que bradam pela eliminação do ex-presidente e do PT da face da terra, como se não tivessem direito a defesa nem tivessem dado importante contribuição, em diferentes momentos da história, para a construção de um país melhor. As redes sociais estão contaminadas pela irracionalidade, pela deturpação dos fatos e por linchamentos nada democráticos. Mas querer que Lula seja julgado e pague, se tiver culpa no cartório, não é uma questão de ódio, é de justiça.
A bem da verdade. Lula disse corretamente que em 2002 Fernando Henrique preferia sua vitória à do amigo tucano José Serra, mas concluiu maliciosamente: “A tese dele (FH) era que o operário (Lula) vai ganhar, vai ser um fracasso absoluto e vão gritar: ‘volta, volta’”. Foi uma injustiça e uma inverdade histórica. O presidente sociólogo apenas concluiu que havia chegado a hora da esquerda e do grande líder de massas - como milhões de pessoas que não eram e nunca seriam do PT.
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