FOLHA DE SP - 11/08
"Não fiz uma boa prova. Se tivesse repetido o tempo que fiz de manhã, estaria na final. E é uma final fraca, com tempos altos. Só posso pedir desculpa a essa torcida que veio apoiar."
A declaração do nadador brasileiro Leonardo de Deus logo após falhar na semifinal olímpica dos 200m borboleta chamou a atenção pela ponderada autocrítica. Não é um tom que se vê com frequência entre os atletas brasileiros que fracassam em suas modalidades na Olimpíada. Ao contrário, nas entrevistas pós-derrota a condescendência é a regra.
Os derrotados em geral dão declarações na linha "já valeu estar aqui", "não foi o que eu queria, mas fiquei feliz com meu desempenho" etc. Contam também com a complacência de narradores e comentaristas de TV, que relativizam os maus resultados.
Essa postura condescendente é nociva. Ninguém deveria se martirizar por uma derrota ou um erro, mas quem não tem capacidade de autocrítica não consegue progredir. Pior, estimula nos críticos o sentimento oposto, igualmente deletério: a intransigência que desvaloriza o atleta, o país e os brasileiros, ao gosto do velho complexo de vira-lata.
A torcida tende a ser mais compreensiva com quem é sincero e reconhece seus erros, demonstrando vontade de corrigi-los e de fazer melhor na próxima vez. Este é um dos motivos, a propósito, por que ninguém mais tem paciência para as mimadas estrelas milionárias da seleção brasileira de futebol, incapazes de uma autoanálise direta e crítica.
O mesmo raciocínio se aplica na hora de fazer um balanço da Rio-2016 e de seu legado. Se não faz sentido o mau humor ao estilo "terra arrasada", como se nada prestasse, a posição excessivamente tolerante que os políticos e uma parcela da imprensa adotam tampouco ajuda. É importante reconhecer as falhas em vez de tentar justificá-las ou, pior, negá-las.
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