Em artigo publicado no jornal "Valor Econômico" em 4/8, o economista Felipe Rezende, professor de economia de Hobart e William SmithColleges, é incisivo em atribuir à fragilidade financeira do setor privado e ao endividamento excessivo das empresas a explicação da crise econômica brasileira atual. Uma recessão de tamanha magnitude, como a queda de um avião, costuma ser explicada por um conjunto de fatores.
De fato, os dados do IBGE utilizados pelo economista indicam que os investimentos das empresas não financeiras passaram a superar seus lucros retidos já a partir de 2007, levando ao seu endividamento crescente. Com a queda na lucratividade e a frustração das expectativas de retorno para os investimentos realizados, desde 2011, a situação financeira das empresas se deteriorou cada vez mais.
Em um quadro muito estudado pelo economista Hyman Minsky, as empresas endividadas estariam preocupadas desde então em arcar com seus compromissos financeiros e recompor seus balanços, cortando despesas e contribuindo assim para aprofundar a crise econômica. "Logo, não deveria causar surpresa a queda dos investimentos há dez trimestres consecutivos (...)", conclui Rezende.
Mas e se em 2011, ao invés de realizar um forte ajuste fiscal e elevar o superavit primário em 1% do PIB, o governo tivesse mantido a expansão dos investimentos públicos que marcou o segundo mandato de Lula? E se o superciclo de valorização das commodities não tivesse se encerrado? E se a crise europeia não tivesse contribuído para a nova contração do comércio mundial a partir de 2012?
Se as expectativas das empresas para o crescimento da economia, que as levaram a investir tanto em 2007, 2008 e 2010, tivessem se concretizado, as empresas não teriam nenhuma dificuldade em pagar suas dívidas. Nesse sentido, o endividamento excessivo não é exatamente um causador da crise, e sim uma de suas consequências e um de seus agravantes.
De todo modo, diante do quadro descrito por Felipe Rezende, fica evidente a sucessão de erros de política econômica desde o primeiro mandato de Dilma. Quando as empresas buscam reduzir seu grau de endividamento, tentativas de recuperar o investimento privado pela redução na taxa de juros ou oferta maior de crédito via BNDES mostram-se inócuas. Desonerações tributárias, por outro lado, acabam servindo apenas para a recomposição de uma parte dos lucros perdidos, não sendo capazes de estimular novos investimentos.
Para piorar, como sugere Rezende, quando o setor privado está cortando investimentos para reduzir seu grau de endividamento e o setor público adota exatamente a mesma atitude em um ajuste fiscal como o de 2015, a economia entra em uma espiral descendente. A única perspectiva de retomada em um cenário como esse viria de um crescimento da demanda no resto do mundo, que infelizmente ainda patina.
A adoção de uma atitude compensatória –anticíclica– pelo setor público, ou seja, de políticas que contribuam para elevar a demanda e gerar fluxo de caixa no setor privado, seria a única alternativa. O autor sugere, por exemplo, a retomada dos investimentos públicos em infraestrutura e do programa Minha Casa, Minha Vida.
Caso se confirme esse diagnóstico, o estabelecimento de um teto para as despesas do governo tal qual proposto na PEC 241 poderia prolongar por 20 anos o mau momento vivido hoje pela economia brasileira.
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