Folha de SP - 18/10
UM, DOIS, TRÊS anos de recessão vão tirar quanto do rendimento de cada brasileiro? A crise vai empobrecer os mais pobres, os remediados ou tornar os ricos um tico menos ricos? A resposta está longe de ser óbvia e pode ter alguma relevância política.
Desde 2004 até ao menos 2013, o rendimento médio cresceu muito mais que o PIB por cabeça, per capita (o PIB, produto interno bruto, é a medida mais geral de renda ou produção gerada pela atividade econômica). Nem sempre PIB e rendimento médios andam no mesmo passo.
Em 1999 e 2003, anos das piores crises recentes, o rendimento médio caiu muito mais que o PIB per capita (o valor do PIB dividido pela população). O rendimento médio aqui é o medido pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, levantamento anual mais completo e detalhados das condições materiais de vida no Brasil.
A queda do PIB per capita em 2015 deve ser uma das maiores da história registrada do país. Numa conta feita com base na previsão mediana da variação do PIB para este ano, o PIB por cabeça deve cair 3,8%. Em 2003, caiu apenas 0,1%; em 1999, 0,8%. Nesses dois anos, o rendimento médio medido pela Pnad caiu mais de 5%.
Na pequena recessão de 2009, ano pois de queda de PIB per capita, o rendimento médio ainda cresceu.
A mais notável diferença positiva de 2015 em relação a esses anos ruins é que o rendimento médio dos brasileiros é muito maior, embora exista alguma controvérsia sobre quão menos desigual deva ser (mas é). De qualquer modo, o número de brasileiros à beira da pobreza ou da indigência é muito menor. Enfim, os dados da Pnad relativos a 2014 ainda não foram publicados, mas o rendimento de 2013 era mais de 60% maior que o de 2003.
Um fato muito negativo desta crise será sua duração. O PIB per capita caiu 0,7% em 2014. Deve cair, 3,8% neste ano. Pelas projeções para 2016, encolhe 2%. Será o terceiro pior triênio desde quando se passou a medir o PIB, após a Segunda Guerra (o pior ocorreu no fim da ditadura militar; o outro, nos anos Collor).
Pode piorar. A partir desta semana, instituições financeiras e consultorias vão começar outra rodada de baixas feias das estimativas de crescimento do PIB. Por ora, as previsões são recessão em torno de 3% neste ano e de 1,5% em 2016.
Devem passar para 3,5% e 2%, respectivamente, nas melhores casas do ramo.
Ainda assim, há atenuantes para o Brasil desta década. Transferências de renda e os aumentos recentes e restantes do salário mínimo devem amortecer o baque na vida dos mais pobres (há mais Previdência, Bolsa Família e outros seguros sociais).
Há motivos diversos para que a variação do PIB por cabeça, do crescimento da economia, possa não andar no mesmo ritmo que a variação da média dos rendimentos, discussão que não cabe aqui, agora, nestas colunas. Aliás, parte do descompasso recente, esquisita e aparentemente grande, tem sido motivo de controvérsia entre os entendidos, faz meia década. A ideia aqui é apenas observar que, apenas com os números do PIB, não é possível deduzir o impacto da crise, a distribuição social dos prejuízos e menos ainda seu efeito político, quase nunca uma simples função da renda.
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