"Feijão com arroz" e "empurrar com a barriga" são expressões que traduzem a política econômica dos cinco anos de governo José Sarney, marcada por quatro planos econômicos para controlar a inflação. Todos fracassados. Fora do foco da inflação nada acontecia e restou aos quatro e sucessivos ministros da Fazenda da época cozinhar a economia na mesmice do "feijão com arroz" e "empurrar com a barriga" até entregar o País ao próximo presidente. Dilma Rousseff mudou o foco. Agora há dois focos que concentram energia e ação do governo: o ajuste fiscal e algo como um vale-tudo para evitar o impeachment da presidente e a cassação do deputado Eduardo Cunha. A economia está à deriva, nada acontece, os indicadores econômicos e sociais não param de piorar e a primeira mulher presidente do Brasil segue reeditando o maranhense José Ribamar Sarney - no feijão e na barriga.
Quando a economia é submetida à prática política rasteira e medíocre, em que os mais altos dirigentes do Executivo e do Legislativo ignoram os brasileiros e concentram tempo, energia e ação em costurar acordos para salvar a própria pele, a credibilidade afunda, cai abaixo de zero e tudo paralisa: não há novos investimentos, o desemprego cresce, salários e renda são reduzidos, verbas públicas são cortadas e o ambiente de degeneração econômica se espalha. A política medíocre domina, a economia é humilhada, o PIB desaba e a população empobrece. É o que estamos vivendo hoje e, pior, sem enxergar luz alguma à frente.
Com exceção da recessão, do desequilíbrio das contas públicas e dos truques primários para esconder o déficit, os demais fundamentos econômicos do Brasil não são ruins. Foram eles que convenceram a agência Fitch a ainda manter o grau de investimento do País. Mas o sinal negativo da Fitch para uma próxima classificação de risco decorre unicamente do ambiente político degradante que paralisa a economia, impede a aprovação do ajuste fiscal e destrói todas as iniciativas para melhorar o quadro econômico. Além disso, as descobertas de crimes cometidos por políticos, empreiteiros e lobistas trituram mais ainda a confiança, que já está - como diz Lula - abaixo do volume morto. Governo algum sobrevive sem credibilidade.
O tal ajuste fiscal desmorona, vai perdendo substância e o governo já calcula os estragos e uma nova redução da meta fiscal. Parlamentares de todos os partidos já avisaram que a CPMF não passa no Congresso, a receita tributária desaba com o PIB e, para onde se olha, só há perdas de receita e aumento das despesas. Iniciativas de engordar o caixa com venda de ativos são desfeitas exatamente porque a economia capitulou, o momento é desfavorável e o governo corre o risco de vender por preço tão baixo que é melhor desistir.
Foi assim que a Petrobrás adiou por 60 dias o lançamento de debêntures que faria na sexta-feira; a abertura de capital do Instituto de Resseguros do Brasil não sai do lugar por falta de interessados; o mesmo ocorre com a oferta pública de ações da Caixa Seguridade; e o ingresso de capital novo na joia da Petrobrás, a BR Distribuidora, até agora não aconteceu pois a estatal não encontra um sócio que pague o que vale o ativo. E isso tudo ocorre no rastro do rebaixamento da nota do Brasil pela Fitch e na expectativa de perda do grau de investimento pela Moody's.
No primeiro semestre o governo anunciou para junho/agosto rodadas de novas licitações de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, que ajudariam a acumular receitas para o ajuste fiscal. Já estamos no fim do ano e nada, absolutamente nada, foi licitado. Leilão recente de novas áreas de petróleo arrematou apenas 14% do que foi ofertado. E, agora, o governo prepara leilão de 29 hidrelétricas para o dia 6 de novembro, com o que espera arrecadar R$ 17 bilhões em outorgas. A ver.
Mas o que faz Lula correr para Brasília e subtrair muitas horas do tempo da presidente Dilma não são leilões, licitações, investimentos e geração de empregos, mas como barrar o impeachment, distribuir cargos a políticos aliados e tirar Joaquim Levy da Fazenda.
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