ESTADÃO - 18/10
O ex-presidente Lula entrou de cabeça na defesa do deputado Eduardo Cunha e da presidente Dilma Rousseff, mas ele deve estar tenso e preocupado mesmo com ele próprio e com a sua família. E, atenção, isso não tem a ver com um confronto entre esquerda e direita, é genuinamente uma questão de polícia e de justiça.
“A convite”, Lula já teve de dar explicações à Procuradoria-Geral da República, na sexta-feira, sobre suas intrincadas relações com as maiores empreiteiras do País, nas asas das quais voava pela África e pela América do Sul, esbanjando carisma e dando uma forcinha para os negócios.
Na Polícia Federal, há dúvidas se Lula funcionava como chefe das empreiteiras brasileiras com vultosos negócios no exterior ou se, na verdade, ele acabou virando uma espécie de alto funcionário a serviço delas ainda como presidente da República.
A dúvida é reforçada por mensagens e dados levantados na Operação Lava Jato, como um e-mail escrito por um executivo da Odebrecht às vésperas de um almoço de Lula com o presidente da Namíbia: “Seria importante eu enviar uma nota memória antes via Alexandrino com eventualmente algum pedido que Lula deve fazer por nós”. O “deve” soou como uma ordem. E o tal Alexandrino, que foi preso na Lava Jato, era o companheiro de viagem de Lula nos jatos da empreiteira.
Para os defensores incondicionais de Lula, o presidente interferia a favor das empreiteiras em defesa dos “interesses nacionais”. O problema é que as dúvidas sobre Lula não são isoladas. Ocorrem em meio a grandes suspeitas envolvendo o seu governo com histórias do arco da velha na Petrobrás e arrastando seus filhos e uma nora para o centro do noticiário que deveria ser político.
Segundo o Estado, Luiz Cláudio Lula da Silva abriu uma empresa na mesma época em que escritórios de lobby despejaram R$ 32 milhões para aprovar uma medida provisória que prorrogou isenções fiscais para montadoras de automóveis. Ato contínuo, a empresa do filho de Lula – que atua na área do “marketing esportivo” – recebeu a bolada de R$ 2,4 milhões de um desses escritórios – que não tem nada a ver com marketing esportivo. Nem quem pagou nem quem recebeu sabe explicar que negócio foi esse.
Segundo o O Globo, o delator Fernando Baiano, operador do PMDB na Petrobrás, disse em depoimento que pagou R$ 2 milhões de despesas pessoais de outro filho de Lula, Fábio Luiz (o “Ronaldinho” da Gamecorp), que também virou empresário de sucesso depois que o pai virou presidente. E, segundo a TV Globo, Baiano especificou aos procuradores que teria dado R$ 2 milhões para que uma nora de Lula quitasse parte (só parte...) de um imóvel. O intermediário teria sido o “irmão” de Lula José Carlos Bumlai, depois de uma negociação suspeita com a Petrobrás.
Na primeira vez, pode ser exagero ou simplesmente fofoca. Na segunda, começa a ficar esquisito. Na terceira, quando atinge o pai, um filho, outro filho e a nora, começa a assumir ares de verdade. É por isso que Lula gasta muita energia para salvar Dilma e Cunha – neste caso sem tanto sucesso, vide o racha na bancada do PT –, mas deveria guardar alguma para se defender e aos seus.
Esses delegados, procuradores e juízes que andam por aí azucrinando ricaços e poderosos têm uma formação impecável, sabem o que estão fazendo e têm fortes conexões com os Estados Unidos, a Itália, o Uruguai, a Suíça... Eles não são nem de direita nem de esquerda. E não estão aí para brincadeira.
Anuncia-se nos bastidores que Lula já está em campanha para voltar ao Planalto em 2018 e dizem que, quando o leão passa, mesmo ferido, os outros bichos se escondem. Lula é sem dúvida um leão da política, mas, para passar, precisa estar livre, leve, solto e sem ter de explicar o tempo todo mil e uma histórias mal contadas.
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