Seis anos depois do começo da crise, a economia global avança lentamente e a maior parte dos países perdeu potencial de crescimento. O setor financeiro é de novo uma fonte de risco, principalmente pela expansão do shadow banking, sistema paralelo ao dos bancos comerciais e menos sujeito à regulação. Cerca de 200 milhões de pessoas estão desempregadas em todo o mundo e a esse número poderão acrescentar-se mais 18 milhões até 2018. A desigualdade aumentou, os problemas sociais cresceram e as condições de vida pioraram até em áreas desenvolvidas. Os piores efeitos do estouro da bolha imobiliária em 2007-2008 ficaram para trás, mas a recuperação tem sido insegura. O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu mais uma vez suas estimativas de crescimento para 2014 e 2015. Nesse quadro sombrio, o Brasil se destaca por indicadores muito ruins e graves fraquezas estruturais.
Poucas autoridades de Brasília participaram este ano, em Washington, da assembleia anual do FMI. O quase ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, preferiu ficar no Brasil. Sua presença, é verdade, faz pouca diferença, ao lado da presidente Dilma Rousseff, em uma reunião internacional. Mas o cenário desenhado pelos economistas do Fundo é relevante para quem hoje se ocupa - e ainda mais para quem vier a se ocupar - da economia brasileira.
A economia mundial, segundo as novas projeções do FMI, deve crescer 3,3% neste ano e 3,8% no próximo. São números muito fracos, depois das taxas de 3,4% em 2012 e 3,3% no ano passado. Mas os detalhes do quadro indicam diferenças importantes. Com expansão estimada de 2,2% neste ano e de 3,1% em 2015, os Estados Unidos manterão um desempenho melhor que o da maior parte das economias avançadas - e bem superior ao do Brasil.
Dentre as maiores economias emergentes, só uma, a russa, deve ter resultados piores que os da brasileira. Mas a Rússia, além de apresentar um conjunto significativo de desajustes, ainda é afetada por sanções econômicas, por causa da crise com a Ucrânia.
Os números globais mudaram e o tom das avaliações se tornou menos otimista em relação à maior parte dos países. Mas a descrição das condições do Brasil repete uma história conhecida e contada muitas vezes. Ela inclui baixa competitividade, investimento insuficiente, gargalos da infraestrutura e inflação persistente e muito acima da meta oficial de 4,5%.
Alguns desses problemas são mencionados também quando se trata de outros países. Os desenvolvidos seriam beneficiados, de acordo com o Fundo, pela aplicação de mais dinheiro em infraestrutura. Também esses países perderam, nos últimos anos, potencial de crescimento. Esta avaliação se estende aos emergentes, incluída a China, a economia mais dinâmica do mundo nas duas últimas décadas. Mas as semelhanças entre os casos do Brasil e de outros países são limitadas e as diferenças logo se ressaltam.
Dois pontos se destacam facilmente. O crescimento econômico brasileiro foi muito menor que o de outros emergentes, incluídos vários países da América do Sul, nos últimos quatro anos. Neste ano, quase todos perderam impulso, mas o efeito foi muito mais sensível no Brasil. Mais uma vez, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru devem avançar mais rapidamente e o descompasso, de acordo com as previsões, deve manter-se nos próximos cinco anos. O segundo ponto é a diferença das taxas de inflação. Os preços sobem mais no Brasil e as perspectivas de melhora são limitadas. Isso aparece claramente nas projeções do FMI.
Todos os países sul-americanos foram prejudicados pela crise internacional e, neste ano, pela baixa dos preços das matérias-primas. O governo brasileiro continua apontando para fora, quando tem de explicar o desempenho econômico do Brasil. Mas por que outros países terão sido menos afetados? A resposta é simples: é preciso levar em conta os fatores internos e também esse detalhe foi repetidamente apontado, nos últimos dias, pelos economistas e dirigentes do FMI. Não se deve olhar para o exterior, mas para Brasília, bem no interior do País, para encontrar a explicação do fiasco brasileiro.
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