Pior do que a queda da receita bruta, em valores reais, constatada pela Pesquisa Mensal de Serviços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o que a nítida desaceleração do setor de serviços indica para o futuro. Ela mostra que, já ruim, o quadro da economia deve piorar, com a redução do emprego e da renda e, consequentemente, da demanda e do ritmo de crescimento, já muito fraco. Para complicar, tudo isso ocorrerá com a inflação em nível muito alto, ameaçando ultrapassar o limite da tolerância da política de metas do Banco Central.
Em valores nominais, a receita bruta do setor de serviços cresceu 4,6% em julho, na comparação com o mesmo mês de 2013. É a menor variação nesta comparação em toda a série mensal iniciada em janeiro de 2012. É menor também que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período de 12 meses encerrado em julho de 2014, que ficou em 6,5% (no limite de tolerância) - ou seja, a receita real diminuiu.
No ano, a receita bruta acumulou alta de 7,0% e, em 12 meses, de 7,6%. As duas variações são maiores do que a inflação, mas são as primeiras, desde o início da pesquisa, que ficam abaixo de 8,0% e não há indicações de que esse ganho real, mesmo pequeno, se mantenha nos próximos meses. Desde maio, pelo menos, a variação mensal da receita, em valores nominais, vem diminuindo, numa clara indicação de desaceleração constante das atividades.
A pesquisa do IBGE abrange as atividades empresariais legais do setor de serviços, pois considera apenas as empresas inscritas no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica. Além disso, exclui do universo da pesquisa os serviços financeiros em geral (bancos, financeiras, corretoras e outras empresas) e os setores de saúde, educação e administração pública. Esses critérios reduzem sua abrangência, mas não sua importância como indicador da evolução futura da economia.
Trata-se de um setor que, mesmo com as exclusões decorrentes de sua metodologia, emprega grande quantidade de mão de obra. Se se incluir o setor informal, que deve enfrentar dificuldades semelhantes ou piores do que as que afetam as empresas formais de serviços, o número de empregados cresce muito mais. A desaceleração da evolução de sua receita bruta, já registrando queda real na comparação mensal, antecipa desaceleração também do mercado de trabalho. Se a tendência de queda das receitas se mantiver, certamente haverá demissões.
O desemprego crescente, por sua vez, reduzirá a disposição e a capacidade de consumo das famílias, esfriando ainda mais uma demanda interna que já dá sinais de esgotamento, por causa do alto endividamento das pessoas físicas e de suas dificuldades para honrar os compromissos financeiros. Por abranger atividades como serviços prestados às famílias, serviços de informação e comunicação e serviços profissionais, administrativos e complementares, a própria pesquisa mensal de serviços do IBGE já começa a evidenciar a desaceleração que ela antecipa para outros setores.
A indústria, às voltas com uma crise que lhe reduz a competitividade e faz encolher seu mercado, já está demitindo e, se a demanda interna se desaquecer, como sugere a pesquisa do IBGE, se verá mergulhada em dificuldades ainda maiores.
A inflação, de sua parte, depois de bater no teto da tolerância da política de metas, e às vezes rompê-lo, não dá sinais de que vá ceder nos próximos meses - fazê-la ceder não parece preocupação do atual governo, que prefere a convivência com a alta constante dos preços à austeridade necessária para combatê-la.
A presidente candidata à reeleição tenta convencer o eleitorado de que não há problemas e, se houvesse, saberia como resolvê-los num átimo. Não há, porém, soluções mágicas para romper esse círculo vicioso de desaceleração do crescimento. Austeridade fiscal, políticas públicas críveis, competência na sua formulação e implementação são elementos essenciais para isso. O que a história dos últimos quatro anos nos ensina, porém, é que o atual governo não dispõe deles.
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