FOLHA DE SP - 13/10
SÃO PAULO - O candidato azul, no jargão de analistas e operadores de campanhas, é aquele cuja votação aumenta conforme se eleva a renda dos eleitores. Já o vermelho atrai mais preferência quanto menor é o rendimento dos cidadãos.
As corridas presidenciais dos anos 1990 apresentavam distinção menos nítida entre o vermelho e o azul. A adesão a Fernando Henrique ou a Lula da Silva variava pouco e nem sempre revelava um padrão à medida que se percorria o gradiente da renda de um extremo a outro.
O cenário mudou na primeira década do século 21. Os candidatos petistas, a começar do Lula vitorioso de 2002, vieram exacerbando a característica de obter uma fatia crescente dos votos conforme diminuíam os vencimentos dos eleitores.
Num país de vultosos contingentes mal remediados como o Brasil, o desempenho vermelho nas urnas esteve associado com a vitória nos três escrutínios presidenciais daquele período. A década mudou mais uma vez, e agora estamos diante de uma possibilidade nova.
Pela primeira vez, um candidato azul mostra condições de obter maioria no segundo turno. Mesmo se Aécio não derrotar Dilma, já estará consignada uma reconfiguração notável, e provavelmente definitiva, na demografia do voto no Brasil.
Ainda não dá para saber se Marx tinha razão quando dizia que, ao triunfar, a sociedade capitalista alimentava o germe de sua própria destruição. Mas é possível perguntar, ironicamente, se o relativo sucesso econômico e distributivo do país nos anos Lula terá contribuído para minar a base eleitoral de candidatos petistas.
O Brasil democrático desta década não deixará de ser o maior Estado de Bem-Estar Social que permitem os seus US$ 12 mil de renda per capita. Ainda assim, o eleitorado parece apto a definir nas urnas os níveis e os limites da intervenção do governo na sociedade e na economia.
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