Quando atingidos por críticas de adversários políticos, os ocupantes do poder costumam reagir, com a ênfase que considerarem oportuna e necessária
Pelo menos em tese, no sistema político vigente no Brasil cidadãos e instituições privadas têm direito a ter opinião sobre o que acontece no país, e isso inclui, obviamente, o comportamento de quem o governa. Quando atingidos por críticas de adversários políticos, os ocupantes do poder costumam reagir, com a ênfase que considerarem oportuna e necessária.
Temos, no momento, um episódio de natureza inédita: o banco espanhol Santander enviou aos seus correntistas de alta renda um comunicado que provocou enérgica reação da presidente Dilma. O que era inevitável. Para os especialistas do banco, a economia do país está enfrentado séria crise, com “baixo crescimento e alta inflação”.
A análise do Santander é fortemente pessimista, ao acrescentar: “Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Roussef nas pesquisas.” Um político da oposição dificilmente seria mais pessimista.
Dilma e Lula reagiram com previsível energia. E o banco se encolheu: imediatamente anunciou ter demitido um funcionário devido ao episódio. Segundo o presidente do Conselho do Santander, Emilio Botin, “a pessoa foi demitida porque o banco, advertido, disse que tinha de ser demitida antes”. Não é uma explicação que se entenda com facilidade, e é bem possível que não seja engolida com facilidade no Palácio do Planalto.
Note-se que a análise pessimista do Santander não é uma atitude isolada. Recentemente, a Consultoria Empiricus, que analisa o comportamento de ações na Bolsa, fez uma campanha na internet aconselhando investidores sobre “como proteger seu patrimônio em caso de reeleição da Dilma”. A campanha saiu do ar depois de um protesto do PT no Tribunal Superior Eleitoral.
Pelo visto, a reação do Planalto foi eficaz. Um economista ouvido pelo jornal afirmou que, devido à atitude do governo, “os analistas não serão mais tão agressivos em suas declarações”. É mesmo o que se pode esperar: especialistas do mercado não são políticos, e nada têm a lucrar com a antipatia de quem manda no país. Cabe aos partidos que se opõem ao governo transformar essa antipatia em munição eleitoral.
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