CORREIO BRAZILIENSE - 01/08
Em toda guerra, a verdade é sempre a primeira vítima. Na batalha que o governo da Argentina trava - e está perto de perder - com a Justiça de Nova York e com fundos chamados "abutres", para evitar a situação de default (calote) de sua dívida externa, não tem sido diferente.
Ontem, o chefe de gabinete da Casa Rosada, Jorge Capitanich, acusou os Estados Unidos pela falta de acordo entre o governo de seu país e os fundos norte-americanos, que representam 7% dos credores da Argentina e têm US$ 1,3 bilhão a receber. Eles compraram os papéis de investidores que, em 2005, se recusaram a aceitar a redução de até 35% do valor original e ganharam na Justiça o direito de recebê-los integralmente. Capitanich classificou o juiz do caso, Thomas Griesa, de "agente dos fundos".
Não é bem assim. Juiz não cria a lei. Ele apenas faz com que ela seja cumprida. Antes, tenta promover negociações e acordos entre as partes. Por seu lado, os fundos acusaram o governo da Argentina de não oferecer proposta aceitável. Não é bem assim. A Argentina não pode pagar a esses fundos nada fora das bases negociadas na reestruturação da dívida, sob pena de ver todos os demais credores recorrerem ao mesmo juiz em busca da diferença.
Como não houve acordo com os fundos "abutres", o negociador nomeado pela Justiça para intermediar os entendimentos declarou que a Argentina estava em situação de default. A Argentina alega que não está nessa condição, já que chegou a depositar a parcela (US$ 835 milhões) dos credores reestruturados, que vencia naquela data, mas que, em razão da decisão de Griesa, ficou bloqueada.
É mais um caso em que cada um dos lados tem suas razões e adianta pouco a tomada de posição de amigos, parceiros e vizinhos dos argentinos, como o Brasil. O que resta é torcer. Primeiro, para que uma reunião convocada para hoje pelo juiz termine em acordo, ou para que os bancos argentinos consigam convencer os fundos em litígio a vender-lhes por preço razoável os créditos que cobram na Justiça (últimas esperanças). Depois, para que a Argentina saia logo desse buraco.
Não tem o Brasil absolutamente nada a ganhar com mais esse drama argentino. É certo que, com reservas cambiais de US$ 380 bilhões e com a moeda razoavelmente estável (na Argentina, a inflação já passa dos 20% e tende a subir mais com o calote), a economia brasileira não deve sofrer qualquer restrição ao crédito.
As perdas virão no campo comercial. A Argentina é nosso terceiro maior importador e o primeiro em manufaturados - especialmente, veículos, autopeças, máquinas, equipamentos e eletrodomésticos. Em 2013, o Brasil exportou US$ 19,6 bilhões para o país, resultado que vem sofrendo redução este ano e poderá ser duramente afetado se o vizinho perder acesso ao crédito para importar. A crise vem em má hora para o Brasil, que opera com deficit nas contas externas. O pragmatismo terá de falar mais alto e deve caber a Brasília o papel de liderar movimento regional de ajuda para a rápida volta do parceiro comercial à condição de indispensável.
Ontem, o chefe de gabinete da Casa Rosada, Jorge Capitanich, acusou os Estados Unidos pela falta de acordo entre o governo de seu país e os fundos norte-americanos, que representam 7% dos credores da Argentina e têm US$ 1,3 bilhão a receber. Eles compraram os papéis de investidores que, em 2005, se recusaram a aceitar a redução de até 35% do valor original e ganharam na Justiça o direito de recebê-los integralmente. Capitanich classificou o juiz do caso, Thomas Griesa, de "agente dos fundos".
Não é bem assim. Juiz não cria a lei. Ele apenas faz com que ela seja cumprida. Antes, tenta promover negociações e acordos entre as partes. Por seu lado, os fundos acusaram o governo da Argentina de não oferecer proposta aceitável. Não é bem assim. A Argentina não pode pagar a esses fundos nada fora das bases negociadas na reestruturação da dívida, sob pena de ver todos os demais credores recorrerem ao mesmo juiz em busca da diferença.
Como não houve acordo com os fundos "abutres", o negociador nomeado pela Justiça para intermediar os entendimentos declarou que a Argentina estava em situação de default. A Argentina alega que não está nessa condição, já que chegou a depositar a parcela (US$ 835 milhões) dos credores reestruturados, que vencia naquela data, mas que, em razão da decisão de Griesa, ficou bloqueada.
É mais um caso em que cada um dos lados tem suas razões e adianta pouco a tomada de posição de amigos, parceiros e vizinhos dos argentinos, como o Brasil. O que resta é torcer. Primeiro, para que uma reunião convocada para hoje pelo juiz termine em acordo, ou para que os bancos argentinos consigam convencer os fundos em litígio a vender-lhes por preço razoável os créditos que cobram na Justiça (últimas esperanças). Depois, para que a Argentina saia logo desse buraco.
Não tem o Brasil absolutamente nada a ganhar com mais esse drama argentino. É certo que, com reservas cambiais de US$ 380 bilhões e com a moeda razoavelmente estável (na Argentina, a inflação já passa dos 20% e tende a subir mais com o calote), a economia brasileira não deve sofrer qualquer restrição ao crédito.
As perdas virão no campo comercial. A Argentina é nosso terceiro maior importador e o primeiro em manufaturados - especialmente, veículos, autopeças, máquinas, equipamentos e eletrodomésticos. Em 2013, o Brasil exportou US$ 19,6 bilhões para o país, resultado que vem sofrendo redução este ano e poderá ser duramente afetado se o vizinho perder acesso ao crédito para importar. A crise vem em má hora para o Brasil, que opera com deficit nas contas externas. O pragmatismo terá de falar mais alto e deve caber a Brasília o papel de liderar movimento regional de ajuda para a rápida volta do parceiro comercial à condição de indispensável.
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