sexta-feira, julho 04, 2014

Sem fronteiras - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 04/07
Formação de profissionais no exterior é obviamente algo a ser estimulado e facilitado. Não merece ser prejudicada por picuinhas de autoridades


Como diz velho ditado, jamais desmentido, o inferno é calçado de boas intenções. Ou seja, resolver problemas e tomar iniciativas não dá certo quando está ausente um conhecimento vasto e profundo das circunstâncias e armadilhas da situação.

Parece ser esse o caso de uma inédita e curiosa briga entre estudantes universitários e autoridades da área de educação. Para quem não sabe, expliquemos. Temos um programa de méritos evidentes, batizado de Ciência Sem Fronteiras, que dá a estudantes de tecnologia, ciências biológicas e saúde a possibilidade de se aperfeiçoarem no exterior. Sem demérito para as escolas brasileiras, naturalmente. Sou testemunha: com uma bolsa de padrinhos generosos no Brasil e lá fora, fiz um ano de graduação em jornalismo na Universidade de Columbia, em Nova York - o que, com certeza e sem demérito para as escolas brasileiras, fez de mim um profissional um tanto mais adequado para seguir na profissão em que sobrevivo até hoje.

Na briga do momento, uma decisão de um tribunal federal de Brasília ajudou os estudantes brasileiros das áreas de tecnologia, ciências biológicas e saúde a completar sua formação no exterior: ela permite que eles aproveitem o programa Ciência Sem Fronteiras, nessas especialidades, para se aperfeiçoarem lá fora - e sem necessidade de aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio, que é do Ministério da Educação e existe desde o ano passado. E isso, como se poderia esperar, deixou o MEC muito triste.

É pena. Mas, para quem vê de fora, e com todo o respeito que merecem as autoridades federais, parece óbvio para a turma da arquibancada que é mais importante facilitar o aperfeiçoamento dos nossos jovens universitários do que satisfazer as magoadas autoridades de Brasília.

A briga ainda não terminou. A Advocacia-Geral da União já anunciou que vai recorrer contra a decisão do tribunal federal e, certamente, tão cedo não se chegará a uma decisão.

Do alto de minha ignorância sobre questões jurídicas, atrevo-me a palpitar: acredito que a formação de profissionais no exterior é obviamente algo a ser estimulado e facilitado. Não merece ser prejudicada por picuinhas de autoridades melindradas por terem sido atropeladas por um programa de óbvias virtudes como o Ciência Sem Fronteiras.


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