O GLOBO - 04/07
Dias depois de sair um dado fortemente negativo do PIB do primeiro trimestre, a economia americana comemorou um excelente número de criação de empregos em junho e a mais baixa taxa de desemprego desde o terrível setembro de 2008.O enigma é se a maior economia do mundo está definitivamente na rota da recuperação ou se há sinais de fraqueza.
Opaís crescerá este ano numa taxa que o Brasil adoraria exibir. Há previsões de 3% de alta do PIB. Mas existem dúvidas sobre se a queda do desemprego é criação de novos postos ou redução da procura de vagas por desalento do trabalhador. E mais, se os novos empregos têm a mesma qualidade e renda do período anterior à crise de 2008.
Há mais sinais de recuperação. Mas há também razões para dúvidas. A criação de emprego em junho foi maior do que a expectativa, porém, grande parte das vagas que têm sido oferecidas é em meio período. A População Economicamente Ativa, que soma os que estão trabalhando com os que estão em busca de nova colocação, permanece num nível baixo.
Vejam o gráfico com dados que o repórter Marcelo Loureiro, do blog, apurou com o economista Daniel Cunha, da XP Investimentos. Ele mostra os dados do BLS (Bureau of Labor Statistics) — pesquisa diferente da payroll, que é mais conhecida. Indica que em junho havia 7,5 milhões de americanos trabalhando em período parcial, muito acima da média pré-crise, na casa de 4 milhões. São pessoas que querem vagas em período integral, mas não encontram. Isso cresceu muito desde a crise e permanece alto. Em junho, das 407 mil vagas criadas, 275 mil foram parciais.
Mas há outros dados importantes mostrando a melhoria do clima no país. Um deles está na bolsa, que atingiu o nível histórico de 17 mil pontos. O economista Rodolfo Oliveira, da Tendências, explica que há uma série de bons indicadores sustentando o otimismo e a alta das bolsas. O desemprego, depois de bater em 10% em outubro de 2009, caiu para 6,1%, número mais baixo desde 2008. A confiança dos consumidores está em nível recorde e a criação de vagas tem sido forte desde fevereiro, depois que os efeitos do inverno rigoroso sobre a economia ficaram menos intensos.
Apesar disso, o percentual de trabalhadores desempregados por mais de 15 semanas ainda está alto, em 2,9%. Melhorou em relação ao pico, de 5,9%, de abril de 2010, mas continua acima do que era antes da crise, 1,5%. O indicador de subutilização de mão de obra, que contabiliza os desalentados e os que trabalham menos do que gostariam, também está alto, em 12,9%.
— A economia dos EUA dá vários sinais de crescimento forte e isso tem impulsionado as bolsas. Mas o mercado só vai ter certeza de que a recuperação realmente acontece quando for divulgado o PIB do segundo trimestre — explicou Rodolfo Oliveira.
A consultoria inglesa Capital Economics prevê alta de 3% no PIB do segundo tri e acredita que os números mais fortes podem antecipar a alta de juros no país, para o início de 2015. Mas analistas ouvidos pelo “Financial Times” acham que isso só ocorrerá no meio do ano que vem. E, claro, se a economia continuar em recuperação. Esta semana mesmo, a presidente do Fed, Janet Yellen, disse que não terá pressa em elevar a taxa, após a conclusão da retirada dos estímulos. Portanto, a resposta do enigma é: sim a economia americana está mais forte, mas há sinais de fragilidades. Ainda não estão superados todos os efeitos da crise imobiliária que abalou a economia americana.
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