FOLHA DE SP - 05/07
Transgênicos, convencionais ou orgânicos, é o consumidor quem faz sua opção --e paga o preço da escolha
Há cerca de três anos, dois gurus em estratégia de competitividade, Michael Porter e Mark Kramer, criaram o conceito de valor compartilhado, concluindo que o capitalismo passou por grandes transformações.
Hoje, quem mais lucra são os que, em suas atividades, incorporam valores da sociedade. Não se trata, aqui, de caridade ou apenas de responsabilidade social corporativa, ações que ajudam a solidificar a boa reputação da empresa, mas não têm conexão direta com a atividade-fim.
O que tem motivado as empresas a incorporar valores da sociedade à sua estratégia comercial é a conclusão de que, nos tempos atuais, a eficiência econômica está associada ao progresso social. Promover o progresso social impulsiona a inovação, a produtividade e a competitividade. É o que move o desenvolvimento neste século 21.
Essa transformação não chegou apenas aos grandes centros urbanos e parques industriais. Está, também, presente no campo e na agroindústria. Nos próximos 30 anos, o mundo terá de alimentar 9 bilhões de pessoas. As estimativas indicam que a população global vai aumentar em número e renda.
A consultoria McKinsey calcula que, em oito anos, só a China será responsável por uma nova classe média de 630 milhões de pessoas. Quase a totalidade das populações atuais do Brasil e dos Estados Unidos. Como se vê, os desafios vão se multiplicar.
O mundo terá que produzir tanto para combater a fome como para atender a esses novos consumi- dores que terão acesso a proteínas de origem animal, como carnes, leite e ovos --e também mais fibras e energia.
Os empreendedores da agropecuária brasileira já estão conscientes de que inovar é contribuir para a preservação do planeta, e não apenas fornecer comida às pessoas. É produzir mais com menos: sem expandir a área plantada e protegendo seus mananciais.
Para o agronegócio brasileiro, o conceito de sustentabilidade compartilha, assim, os valores econô- micos, sociais e ambientais. São esses os maiores valores da sociedade moderna.
Nesse contexto, o papel da biotecnologia ganha relevo. O Brasil e os Estados Unidos são líderes mundiais nesse campo. O uso de sementes geneticamente modificadas no Brasil é seguro e fundamentado em critérios científicos comprovados.
O que adversários do uso de transgênicos desconhecem --ou fingem desconhecer-- é que a semente do milho resistente à lagarta do cartucho, por exemplo, é desenvolvida a partir da mesma bactéria --o Bacillus thuringiensis--, que, na produção de alimentos orgânicos, é utilizada no controle biológico de pragas.
Esse milho geneticamente modificado é plantado há quase duas décadas no país e não oferece risco à saúde dos consumidores. Apenas contém uma proteína que destrói o intestino da lagarta que ataca as folhas do milho, dispensando o uso de agroquímicos.
O fato incontestável é que as lavouras transgênicas são manejadas usando menos defensivos agrícolas. De acordo com o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (Isaa, na sigla em inglês), o plantio de transgênicos no mundo já eliminou a necessidade de utilização de 497 mil toneladas de ingrediente ativo de agroquímicos.
Isso significa menos liberação de resíduos no ambiente, menos risco de contaminação por uso inadequado dos produtos, redução de uso de maquinário para pulverização das lavouras e, consequentemente, menos consumo de combustível fóssil, de emissão de gases de efeito estufa e de compactação do solo.
Embora o cultivo com transgênicos ofereça diversos ganhos, não se defende o uso exclusivo dessa tecnologia. No Brasil, os sistemas de produção orgânico, convencional e transgênico convivem, de forma harmônica. E os insumos biológicos e químicos podem ser utilizados de forma complementar, em que o produtor aproveita o que de melhor cada tecnologia oferece.
A agropecuária brasileira trabalha para que a nutrição seja uma escolha, ofertando sabor e qualidade em alimentos seguros, por um preço competitivo. Transgênicos, convencionais ou orgânicos, é o consumidor quem faz sua opção --e paga o preço da escolha.
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