O ESTADÃO - 05/07
Graças à produção de petróleo e gás a custos muito baixos, a partir do fraturamento hidráulico do xisto, os Estados Unidos passam por uma revolução energética
Após 40 anos, os Estados Unidos começam a reabrir as exportações de petróleo bruto.
No dia 24, o Departamento do Comércio dos Estados Unidos autorizou as primeiras operações de embarque, proibidas desde o embargo imposto pelos árabes pelo apoio dos Estados Unidos a Israel na Guerra do Yom Kippur, em 1973. As exportações ainda são insignificantes, mas devem ser vistas como parte de um processo de flexibilização. Se confirmada, essa decisão terá grande impacto econômico e geopolítico, com consequências também sobre o Brasil.
Graças à produção de petróleo e gás a custos muito baixos, a partir do fraturamento hidráulico (fracking) do xisto, os Estados Unidos passam por uma revolução energética. Estão à beira da autossuficiência de petróleo e de gás. Com esse horizonte, empresas de petróleo pressionam o Congresso americano para autorizar a reabertura das exportações de óleo bruto para, assim, viabilizar investimentos e garantir mercado externo para aumentos de produção.
Essas novas condições muito próximas de dispensar o suprimento externo de petróleo podem ajudar a explicar o relativo desengajamento dos Estados Unidos nos conflitos do Oriente Médio, mais especialmente nesta crise que ameaça implodir o Iraque. Ou seja, a revolução do xisto nos Estados Unidos começa a ter impacto geopolítico.
A provável reabertura das exportações de óleo cru nos Estados Unidos deverá produzir duas consequências para o Brasil. A primeira será o relativo desinteresse das empresas globais de petróleo pela produção brasileira. Nos Estados Unidos, contam com mais estabilidade nas regras do jogo, abundante infraestrutura a custos mais baixos e enorme cadeia de fornecedores de equipamentos de exploração. A segunda consequência tende a ser a manutenção (ou até a redução dos preços) do gás natural nos Estados Unidos. É fator que tenderá a atrair mais investimentos industriais, especialmente de unidades eletrointensivas como química básica, metalurgia dos não ferrosos, vidro e cerâmica.
Ou seja, um dos riscos para o Brasil é a perda de investimentos não só para os Estados Unidos, mas, também, para o Canadá e o México, que fazem parte do mesmo bloco comercial, o Nafta.
Por enquanto, o governo brasileiro concentra suas fichas no aumento da produção de gás do pré-sal. Mas aí os custos (e os preços) tendem a continuar elevados. O primeiro leilão de concessões de exploração de gás de xisto foi realizado em novembro de 2013. Mas os investimentos estão ameaçados porque enfrentam indefinições das regras. No início de junho, a Justiça Federal acolheu pedido do Ministério Público de suspensão da 12.ª Rodada de Licitações. O argumento é de que faltam informações sobre a magnitude dos riscos ambientais associados à técnica de fraturamento hidráulico, o que poderia comprometer “em caráter irreversível” o Aquífero Guarani, um dos maiores do mundo. Recurso da Agência Nacional do Petróleo (ANP) foi rejeitado em caráter liminar. A ação tramita na 1.ª Vara Federal de Cascavel.
Enquanto essas dúvidas não forem dirimidas de vez, é difícil de prever avanço da exploração de gás de xisto no Brasil.
CONFIRA:
Pressões na Alemanha
A Alemanha também enfrenta o dilema de incrementar ou não a exploração do gás de xisto. A técnica de fraturamento hidráulico (bombardeio do xisto por uma mistura de água, areia e produtos químicos a alta pressão) vem sendo usada no país há mais de 50 anos, mas com pouca intensidade. A forte concorrência energética dos Estados Unidos e as dúvidas sobre a garantia de suprimento de gás da Ucrânia vêm levando as companhias energéticas a pressionar o governo alemão para dinamizar a exploração.
O outro lado
Na outra ponta, estão os organismos ambientalistas e as cervejarias que vêm fazendo forte campanha contra, porque temem a contaminação dos lençóis freáticos.
Vai parar?
O governo alemão parece mais propenso a suspender as perfurações até que estudos mais aprofundados verifiquem os riscos do processo ou que novas tecnologias mais seguras substituam a atual.
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