ZERO HORA - 05/07
Ao mesmo tempo em que o ministro da Fazenda anuncia um novo pacote de incentivos à indústria automobilística, administradores das cidades de maior porte se empenham em desestimular o uso do automóvel e em valorizar o transporte coletivo. O país não tem como fechar os olhos às quedas sucessivas na produção da indústria automobilística, que representa cerca de um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) industrial do país. Até mesmo cidades de médio porte, porém, não comportam mais o tráfego de veículos particulares, nem dispõem de espaço para estacionamento. Encontrar um meio-termo, que ao menos sirva para atenuar essa contradição, é um desafio para os gestores públicos que ganha ainda mais destaque nesta largada oficial de campanha.
Num país historicamente voltado para o transporte rodoviário, tanto no caso de cargas quanto de passageiros, a adoção de um modelo mais diversificado exige acima de tudo uma profunda transformação cultural. A ênfase dada à questão da mobilidade urbana nas manifestações de rua a partir de junho do ano passado vem contribuindo para manter o tema em evidência. Mas há necessidade de um debate de forma continuada, que ajude a conciliar melhor os interesses de quem se vale do transporte individual e do coletivo para se deslocar no cotidiano. A eficiência de um e outro é um pressuposto para facilitar o trânsito, evitando os transtornos que se incorporaram à rotina nos centros urbanos.
A elevada dependência que o país tem da indústria automobilística na geração de riqueza e emprego não pode restringir a busca de alternativas na área da mobilidade. O uso de veículos particulares nas proporções de hoje exige contrapartidas de investimentos em infraestrutura que o país não tem como bancar. Em consequência, ampliam-se a cada dia as dificuldades tanto para quem tenta circular sozinho no conforto de seus veículos particulares quanto em precários ônibus, normalmente lotados, principalmente onde não há corredores específicos.
O país paga um custo elevado demais para as suas deficiências de transporte. Os prejuízos vão desde os relacionados ao tempo em que se fica parado no trânsito até as renúncias fiscais na tentativa de conter as sucessivas quedas nas vendas de veículos. É preciso investir na diversificação de forma gradativa, mas com base em políticas que acenem com alternativas concretas a médio e longo prazos.
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