O ESTADÃO - 22/07
Não é novidade que mercados financeiros são influenciados por expectativas políticas. Aumento ou alívio de tensões regionais, ao redor do mundo, sobretudo em áreas que concentram recursos naturais estratégicos, costumam empurrar para cima ou puxar para baixo a cotação dos ativos.
Também não surpreende o quanto pesquisas eleitorais, no Brasil pós-redemocratização, têm impactado os índices financeiros. Quando Lula despontou, no segundo semestre de 2002, com crescentes chances de vitória nas eleições presidenciais daquele ano, a cotação do dólar disparou. A presunção de que o então candidato oposicionista, se eleito, promoveria reformas antiliberais estressou o mercado.
Nas eleições seguintes, numa das quais Lula foi reeleito e, na outra, emplacou sua criatura, o fenômeno se deu em escala mais reduzida. O antes assustador "sapo barbudo", apesar das suas muitas idiossincrasias, tornou-se palatável ao mercado, assim como sua sucessora, Dilma Rousseff, apresentada como executora da continuidade das políticas antes implementadas.
Neste ano eleitoral de 2014, porém, as expectativas políticas voltaram a influenciar os movimentos do mercado financeiro com grande intensidade. Pelo menos desde março, formou-se consenso entre os analistas de que as pesquisas eleitorais, mais até do que as perspectivas da economia e seus fundamentos, estão ditando os rumos dos mercados, pelo menos no curto prazo. Com a rejeição pelo mercado da política econômica de Dilma e do modo como ela conduz a economia, estabeleceu-se uma relação inversa entre os índices eleitorais da presidente que tenta a reeleição e os da bolsa de valores.
Quando comparados com os de outras praças financeiras, o movimento das cotações, nos mercados domésticos, mostram evidências de que a disputa eleitoral, com as pesquisas passando a apontar para desfecho imprevisível e possibilidade de vitória oposicionista, tem afetado diretamente os índices da bolsa. Parece ser esta uma das explicações para o descolamento da Bolsa brasileira dos demais mercados emergentes, nos últimos meses,
De março para cá, o Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, subiu em dólar quase 30%, o dobro da alta média experimentada pelos mercados de ações de emergentes. Partindo de uma mesma base em janeiro deste ano, enquanto o índice MSCI (desenvolvido pelo banco de investimento global Morgan Stanley) para mercados emergentes, acompanhando o índice S&P, da Bolsa de Nova York, subiu até o início de julho pouco mais de 5%, o MSCI Brasil avançou perto de 15%.
É legítimo suspeitar que pelo menos parte desse resultado, registrado em ambiente econômico de baixo crescimento e inflação elevada, se deve a fatores externos à economia. Se está mais difícil produzir, vender e obter lucro, de onde viria essa animação dos pregões?
Em busca da resposta, o banco global de investimentos UBS correlacionou algumas variáveis, cotejando o recente período de alta das cotações no mercado brasileiro com as próprias tendências históricas e com a evolução dos índices financeiros em outros emergentes. A conclusão do exercício é a de que quase metade da diferença atual se deve a influências políticas, com origem na marcha das pesquisas eleitorais e nas projeções para o pleito de outubro.
O mesmo exercício foi elaborado para o caso das atuais altas nas cotações dos papéis da Petrobrás e da Eletrobrás, estrelas estatais do mercado de ações e, presumivelmente, mais expostas aos ruídos políticos e às influências das projeções eleitorais. O resultado apontou que, nos últimos meses, dependendo do índice com o qual é feita a comparação, de 20% a 40% das altas fora da curva "normal", no Brasil, podem ser explicadas mais pelas percepções do mercado sobre as políticas que o próximo governo adotará para elas do que pelo desempenho empresarial específico de momento.
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