O ESTADÃO - 22/07
Justiça seja feita, o governo e boa parte do PT não alimentaram de vento a certeza de que a eleição de 2014 estava ganha. A despeito das evidências em contrário, até pouco tempo atrás todas as pesquisas eram sustentadas na afirmação de que “se a eleição fosse hoje” a presidente Dilma Rousseff ganharia no primeiro turno.
O principal indício de que se tratava de uma precipitação era o fato de que nem Luiz Inácio da Silva com toda a sua popularidade conseguirá vencer no primeiro turno nenhuma das duas eleições. Outro, os problemas que a presidente já vinha colecionando entre os partidos de sua base de apoio no Congresso, com destaque para o PMDB. Estavam esperando apenas um abalo nos índices de avaliação positiva do governo dela para dar o troco no tratamento que recebiam. Mais uma indicação: a presença na disputa de dois políticos jovens e experientes. Além disso, havia o desempenho do governo despertando insatisfações por todo o lado. Por fim, a impossibilidade de se avaliar situações com um mínimo de realismo partindo de premissa falsa. “Se a eleição fosse hoje” já teriam ocorrido outros fatos que à época dessa afirmativa ainda não haviam ocorrido. O horário eleitoral, por exemplo. Como chegar a uma conclusão sem que todas as informações da realidade estejam postas? Mas o PT e o governo acreditaram na fantasia. E perderam tempo imaginando que a força da inércia seria suficiente para assegurar a vitória.
Afinal de contas, mesmo quando Dilma começou a perder capital a oposição não deu sinais de se apropriar do eleitorado perdido. O movimento foi vagaroso. Até que a última pesquisa do instituto Datafolha mostrou o grau de dificuldade com a simulação do segundo turno.
Nesse ritmo, a presidente corre o risco de ver o tucano Aécio Neves ultrapassá-la e, se não se aprumar, daqui a pouco ficar em situação de empate com Eduardo Campos. Sem dúvida é de assustar qualquer campanha. O PT e o governo foram pegos de calças curtas. Não estavam preparados para uma disputa assim tão acirrada e as brigas entre os grupos de Lula e Dilma falam por si. Isso não significa, porém, que não possam vir a se preparar. Mas por ora batem cabeça e improvisam. Lula é a arma principal. A dúvida é se ainda tem o potencial de uma bala de prata. Em 2010 elegeu Dilma, que começou mal, mas deslanchou assim que o então presidente entrou em campo. Há diferenças abissais entre uma situação e outra. Ela era desconhecida e ele, extremamente bem avaliado, seu avalista. Hoje o julgamento negativo é sobre o governo dela e Lula tem pouca margem para pedir ao eleitorado simplesmente que renove a aposta.
Vai precisar arrumar um discurso para que, primeiro, os eleitores parem de rejeitar Dilma; segundo, voltem a cair de amores por ela; terceiro, se encham de rancores por seus oponentes.
Cor de lodo.Começou ontem o recesso do Congresso que, por inconstitucional, não é oficial e por isso chamado de “branco”. Inapropriadamente, diga-se, pois a cor é associada a asseio e este não é um atributo relacionado ao truque adotado por suas excelências para suspender os trabalhos antes de votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2015, como manda a Constituição.
Daqui até as eleições haverá duas sessões no Senado e quatro na Câmara, num total de 144 horas de trabalho em dois meses e meio. Formalmente continua tudo normal. Foram suspensas apenas as sessões de votações. Na prática, ficam todos em seus Estados cuidando das respectivas eleições.
Seria bom que o eleitor a quem pedirão votos nesse período fique atento a esse assunto, já que continua pagando integralmente salários e verbas extras para deputados e senadores que não se acanham de criar uma situação de legalidade virtual que, na prática, joga o Congresso Nacional na ilegalidade de fato.
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