O ESTADO DE S.PAULO - 14/07
A coletiva da CBF depois do 7 a 1 me proporcionou uma surpresa, num dia em que não esperava me surpreender com mais nada, depois do que aconteceu no campo. O extraordinário espetáculo de evasão de responsabilidade; as platitudes oportunistas sobre a relação entre futebol e a vida; a lamentável leitura da carta da D.Lucia que fez um grupo de marmanjos parecer crianças chorando pela mãe depois de apanhar no recreio da escola; e, afinal, a impressionante deferência demonstrada por parte da imprensa esportiva com o grupo que tinha acabado de comandar o pior vexame do futebol brasileiro de todos os tempos.
Pensei, só falta agora aplaudirem no final. Do chão não passa, me diziam quando criança, depois de um tombo. Passa, sim. Com esta triste cena em mente, ofereço meus préstimos para os escribas que vão a Fortaleza cobrir a reunião dos BRIC's. Pela segunda vez, em uma semana, seremos anfitriões mas não protagonistas. Não com a estreia de Narendra Modi, o nacionalista que cruzou os braços ou instigou um massacre de muçulmanos quando era governador de Gujarat em 2002 e o político com maior número de votos do planeta. Modi foi eleito por 170 milhões dos mais de 500 milhões de indianos que foram às urnas em maio. Ou com a presença de Xi Jinping, cuja importância dispensa argumento.
E teremos Vladimir Putin, que acaba de abocanhar o equivalente a uma Bélgica do território de um país independente e está numa turnê de charme pelo continente que era tão frequentado por sua antiga patroa KGB. Se nossos intrépidos repórteres sobreviverem ao asco da untuosa comitiva da rede RT, Russia Today, a versão pós-soviética e de língua inglesa da propaganda oficial do Kremlin, se conseguirem tomar a palavra desses papagaios stalinistas, aqui vão umas sugestões na contramão do que vimos no trato com a CBF.
1. A que o senhor atribui o extraordinário índice de popularidade de 86%, percentagem que fascistas, homossexuais, ateus e intelectuais russos denunciam como fantasiosa?
2. O senhor considera uma denúncia do sistema de percentagem que os decadentes romanos inventaram antes de Cristo e a transição para um novo sistema matemático que permita às pesquisas exibirem números de sua popularidade superiores a 140?
3. Se o chamado Putinismo é ancorado na mobilização contra inimigos externos ou internos, quais os seus planos para nomear um moinho de vento antes das eleições de setembro? Já que o Canadá tomou a iniciativa de impor mais sanções por causa da Ucrânia, o senhor não acha que o canadense Justin Bieber resume tudo o que a Nova Rússia abomina? E ele tem a vantagem do reconhecimento instantâneo pela juventude russa.
4. Uma vez que o senhor se cansou dos rebeldes que armou no Leste da Ucrânia e o exército de Petro Poroshenko parece que não vai largar o osso, quais os seus planos para absorver de volta ex-agentes da KGB e nacionalistas lunáticos armados com kalashnikovs, furiosos porque o senhor não telefona mais nem deixa recado?
5. O senhor pretende pedir ajuda ao Scolari para explicar aos russos por que gasta US $ 18 bilhões com a Crimeia, enquanto a economia russa cresce 0 por ano?
6. Ao contrário do que sugeriu o governo brasileiro, o combate à exportação de futebolistas russos para o exterior não teria impacto em 2018. O senhor contempla medidas de emergência equivalentes às que tomou em Socchi? Como, por exemplo, enviar a spetsnaz para sequestrar em Londres os bens, quer dizer, jogadores, de seu amigo oligarca Roman Abramovich, dono do Chelsea F.C.? Como vimos na invasão da Crimeia, a cidadania russa pode ser obtida com enorme velocidade e todo homem tem seu preço.
7. O senhor pretende tirar a camisa e cavalgar numa praia de Fortaleza? Como somos bons anfitriões, Vladimir Vladimirovich, precisamos explicar a diferença do impacto causado por seus rígidos peitorais desnudos no puritano mundo anglo saxão e nas nossas praias. Aqui, gesto semelhante só surtiria efeito se partisse da Angela Merkel.
Spasibo pela atenção.
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