FOLHA DE SP - 14/07
Combinação de inflação alta e crescimento econômico pífio é anomalia que só será superada com mudança na conduta do governo
A combinação adversa de inflação elevada e crescimento econômico pífio deixa o Brasil em posição singular entre os principais países do mundo. Na maioria deles, quando o PIB fraqueja e a demanda escasseia, os preços não tardam a desacelerar.
Aqui, a inflação mostra resistência maior. Enquanto o Brasil parece se aproximar de uma recessão, a julgar pela queda dos índices de confiança, produção e, aos poucos, também emprego, a alta dos preços continua oscilando ao redor do teto do regime de metas (6,5%).
Em junho, o IPCA acumulado em 12 meses chegou a 6,52%. O vilão do momento é a Copa do Mundo, que propiciou a escalada das tarifas de hotéis e passagens aéreas. A inflação de serviços voltou a subir para 9% no mesmo período, mais do que compensando a redução dos preços dos alimentos.
O quadro provavelmente não será muito diferente nos próximos meses. Dissipado o efeito do turismo, outros fatores prevalecerão. Haverá, por exemplo, repasses de custos de energia, que cresceram entre 15% e 20% em vários Estados. Não se espera, assim, uma redução relevante no ritmo da inflação até o final do ano.
Quanto a 2015, a incerteza é grande. De um lado, os juros altos e a estagnação da economia devem ajudar a conter preços dos serviços. De outro, a provável correção de tarifas hoje represadas (energia, gasolina e transportes urbanos) mantém elevadas as expectativas de carestia do setor privado.
Seja como for, permanece a questão: por que a inflação no Brasil é tão alta em relação à média internacional? A resposta provavelmente está na combinação de erros de gestão econômica nos últimos anos com a persistência dos históricos mecanismos de indexação.
Além da administração perdulária e pouco transparente do Orçamento e do crédito público, talvez o principal erro do governo federal tenha sido mostrar descompromisso com as metas. Ao enfraquecer a confiança da sociedade de que o poder de compra da moeda seria preservado, jogou lenha na fogueira da cultura inflacionária.
As pessoas passam, assim, a se defender, tomando tendências passadas --e cada vez menos a meta de 4,5%-- como referência para pedir aumentos salariais, corrigir o aluguel etc. Quando isso ocorre, a inflação persiste, tornado maior o custo social (em termos de PIB perdido) para reduzi-la.
Sem uma mudança profunda na conduta do governo federal para convencer a sociedade de que haverá aderência a metas e compromissos, até mesmo um arrocho --via juros ainda mais estratosféricos ou tarifaços à moda brasileira-- será um sacrifício em vão.
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