FOLHA DE SP - 16/05
RIO DE JANEIRO - Parece comédia com Alberto Sordi ou Totò. Na Itália, a Máfia está sendo obrigada a mudar de ramo --seus membros começam a trocar o crime por empregos em firmas caretas e com relógio de ponto. Uma das causas é a crise econômica: os estabelecimentos a quem eles vendiam "serviços" já não têm condições de se deixar extorquir. Outra é uma mudança nos costumes: percebeu-se que a Cosa Nostra, com seus "padrinhos", códigos de honra e excesso de glúten na alimentação, era das coisas mais cafonas e "démodées" que podia haver.
Os dois fatores estão levando os donos de hotéis, cantinas e biroscas, seus tradicionais clientes, a receber os mafiosos com enfado --"Pode quebrar, não perco nada com isso"-- ou simplesmente chamar a polícia. Com a queda dos rendimentos, ficou difícil para a Máfia fechar a escrita. Daí que tantos de seus membros, pessimistas quanto a fazer carreira na empresa, resolveram investir no mercado convencional. E, para sua surpresa, estão descobrindo que a honestidade compensa.
No Brasil, ainda não chegamos a esse ponto, mas está próximo. A economia tatibitate é igualmente um dos fatores. Muitos empresários já não veem com a mesma naturalidade os achaques que sofreram de tipos com a barba por fazer, nos últimos anos, na forma de "contribuição" ou "doação de campanha".
Outros negócios, até há pouco acima de qualquer suspeita, como superfaturamento de contratos, comissões na aquisição de refinarias, operações-laranja em sociedade com doleiros, sangria nas estatais, simples compra de deputados e tráfico de dinheiro em cuecas ficaram perigosamente na mira de procuradores enxeridos e da Polícia Federal.
Com isso, é possível que vários dos que andaram se locupletando à larga cogitem ingressar na vida lícita. Resta ver qual dessas alternativas custará menos ao Brasil.
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