O GLOBO - 06/04
No primeiro trimestre deste ano o país teve um déficit da ordem de US$ 6 bilhões na balança comercial, contrariando as expectativas de recuperação
As exportações brasileiras diminuíram no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, que também não foi brilhante. Mesmo com um pequeno recuo nas importações, o resultado da balança comercial nos primeiros três de meses de 2014 foi um déficit da ordem de US$ 6 bilhões. A recuperação esperada não se concretizou, pois houve queda expressiva nas vendas de manufaturados e semimanufaturados para o exterior, exatamente os itens que incorporam mais valores à economia brasileira, pois envolvem extensas cadeias produtivas.
Os números frustrantes das exportações de manufaturados, especialmente, são atribuídos aos problemas enfrentados pela Argentina, terceiro maior parceiro comercial do Brasil. O aumento mais expressivo na produção de petróleo, que se traduzirá em novas exportações, igualmente não se concretizou no primeiro trimestre.
Houve um salto fantástico nas exportações brasileiras a partir de 1999, saindo de um patamar de US$ 65 bilhões para cerca de US$ 250 bilhões anuais. Nos dois últimos anos, porém, as exportações estagnaram, embora o Brasil tenha mantido posições de liderança em diversos produtos, como minério de ferro, soja, café, açúcar, carnes. A capacidade de produção de veículos e de celulose, dois itens que contribuem significativamente para o resultado da balança comercial, se expandiu, com a ampliação e inauguração de fábricas.
O câmbio se tornou bem favorável às exportações nesse período de dois anos. Alguns avanços ocorreram na logística e a burocracia até diminuiu um pouco nos portos.
Então o que está se passando com as exportações deveria ser objeto de mais reflexão. Mesmo com a crise financeira internacional não superada, o mundo não parou de se mexer no comércio exterior, mas o Brasil manteve uma postura estática, muito em função das alianças políticas que acabaram engessando a estratégia comercial do país. Veja-se o caso do comércio com os Estados Unidos e a Europa.
O Brasil depende fundamentalmente de saldos na balança comercial para fechar suas contas externas de maneira equilibrada. Sem saldo na balança comercial, o déficit em transações correntes continuará aumentando, e para cobri-lo o país dependerá de um fluxo positivo de investimentos diretos e de financiamentos. Qualquer retração nesse fluxo financeiro provocaria uma depreciação considerável no câmbio, com risco de provocar mais inflação e até uma recessão.
Desse modo, não há como ser leniente em relação à trajetória das exportações, pois é por essa via que se pode melhorar os resultados da balança comercial, e não como era feito no passado, com barreiras e até a proibição de importações.
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