CORREIO BRAZILIENSE - 24/04
Para o governo, o atual período de alta inflacionária vai passar e o país fechará 2014 com o aumento dos preços contido dentro da meta de 6,5% ao ano, embora esse seja o teto definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Bom, essa é a tese do ministro da Fazenda, Guido Mantega. E ele justifica tanta confiança com explicação singela: "É assim que acontece todos os anos". Resta saber se o comandante da economia combinou a repetição da história com os russos - como diria o eterno craque Garrincha, questionando o técnico da Seleção de 1958 se o comportamento recomendado a ele em campo estava acertado com o adversário para ser tão facilmente executado.
No caso de Mantega, certamente não há nada combinado. Seja do lado do consumidor, seja do lado do mercado, o que há é apreensão. A expectativa de quem compra caiu, em março, ao menor nível desde julho de 2009, atingindo 108,8 pontos, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Já a confiança de quem vende, calculada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), teve queda de 2,1% no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano passado. Motivação não faltou para que tais reações coincidissem, até porque nenhuma delas é fundamentada em pessimismo fortuito. Pelo contrário, são ambas fundadas na dura realidade nacional.
Afinal, já nos três primeiros meses de 2014, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 2,18%. A título de comparação, nesse período, a poupança rendeu 1,70% e a média de rendimento dos fundos de investimento foi de 2,04%. Ou seja, o brasileiro não tem para onde correr. Assim, Mantega é quase uma ilha de despreocupação. Tudo bem, é verdade que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, esteja afinado com ele quanto à inflação fechar o ano no teto da meta. Mas o próprio BC previu na terça-feira, por meio do Boletim Focus, que o IPCA vai a 6,51% até dezembro. Na semana passada, a previsão era de 6,47%, portanto, ainda dentro do limite.
O que Mantega disse ontem que está em plenas condições de cumprir - e é melhor acreditar que assim será - é que o governo não fará uso de medidas heterodoxas para controlar, ou melhor, manipular, a inflação. Nada de mágica, como um expurgo aqui outro ali. A aposta dele é que a pressão inflacionária ceda naturalmente, com mercados sujeitos a sazonalidades e produtos que estão na entressafra - especialmente os hortifrutigranjeiros, que citou como prejudicados pelas chuvas mais escassas - vencendo os períodos difíceis e apresentando melhor oferta. Assim seja. Mas o país ficará menos desconfortável se o governo não cruzar os braços diante desse prognóstico.
Nem sequer é razoável seguir a toada de uma nota só da política monetária. Tentar domar a fera apenas com o garrote dos juros, enquanto o gigantesco Estado a alimenta com gastos perdulários, é enxugar gelo. Conformar-se com a inflação roçando o teto, outra atitude incompreensível das autoridades, só compatível com o crescimento igualmente despretencioso do Produto Interno Bruto. Este país precisa pensar grande. Sem rigoroso ajuste fiscal, ora relaxado, os preços serão sempre uma ameaça. O Brasil já perdeu oportunidades demais. É hora de encarar os problemas com firmeza e arrumar de vez a casa, para que as conquistas sociais possam ser mantidas e até ampliadas.
No caso de Mantega, certamente não há nada combinado. Seja do lado do consumidor, seja do lado do mercado, o que há é apreensão. A expectativa de quem compra caiu, em março, ao menor nível desde julho de 2009, atingindo 108,8 pontos, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Já a confiança de quem vende, calculada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), teve queda de 2,1% no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano passado. Motivação não faltou para que tais reações coincidissem, até porque nenhuma delas é fundamentada em pessimismo fortuito. Pelo contrário, são ambas fundadas na dura realidade nacional.
Afinal, já nos três primeiros meses de 2014, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 2,18%. A título de comparação, nesse período, a poupança rendeu 1,70% e a média de rendimento dos fundos de investimento foi de 2,04%. Ou seja, o brasileiro não tem para onde correr. Assim, Mantega é quase uma ilha de despreocupação. Tudo bem, é verdade que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, esteja afinado com ele quanto à inflação fechar o ano no teto da meta. Mas o próprio BC previu na terça-feira, por meio do Boletim Focus, que o IPCA vai a 6,51% até dezembro. Na semana passada, a previsão era de 6,47%, portanto, ainda dentro do limite.
O que Mantega disse ontem que está em plenas condições de cumprir - e é melhor acreditar que assim será - é que o governo não fará uso de medidas heterodoxas para controlar, ou melhor, manipular, a inflação. Nada de mágica, como um expurgo aqui outro ali. A aposta dele é que a pressão inflacionária ceda naturalmente, com mercados sujeitos a sazonalidades e produtos que estão na entressafra - especialmente os hortifrutigranjeiros, que citou como prejudicados pelas chuvas mais escassas - vencendo os períodos difíceis e apresentando melhor oferta. Assim seja. Mas o país ficará menos desconfortável se o governo não cruzar os braços diante desse prognóstico.
Nem sequer é razoável seguir a toada de uma nota só da política monetária. Tentar domar a fera apenas com o garrote dos juros, enquanto o gigantesco Estado a alimenta com gastos perdulários, é enxugar gelo. Conformar-se com a inflação roçando o teto, outra atitude incompreensível das autoridades, só compatível com o crescimento igualmente despretencioso do Produto Interno Bruto. Este país precisa pensar grande. Sem rigoroso ajuste fiscal, ora relaxado, os preços serão sempre uma ameaça. O Brasil já perdeu oportunidades demais. É hora de encarar os problemas com firmeza e arrumar de vez a casa, para que as conquistas sociais possam ser mantidas e até ampliadas.
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