O Estado de S.Paulo - 08/02
A inflação de janeiro trouxe seu lado boa surpresa, mas mostrou, também, que é cedo para comemorar.
A alta de preços em relação a dezembro foi de 0,55%, substancialmente inferior ao 0,92% apurado em dezembro (veja o gráfico). Também boa notícia foi o ritmo forte da desaceleração. A evolução do IPCA-15, que é o mesmo índice de inflação em 30 dias, com a diferença de que mede o período compreendido entre o dia 15 de um mês ao dia 15 do mês seguinte, já havia acusado menos intensidade (evolução de 0,74%).
Um dos conjuntos de preços que mostraram desaceleração mais forte foi o dos serviços. Eles haviam subido 1,16% em dezembro e ficaram com uma alta bem mais moderada em janeiro, de 0,47%. O item que mais pesou nesse segmento foi o das tarifas das passagens aéreas. Em dezembro haviam saltado nada menos que 20,13%; em janeiro, recuaram 15,88%. Como o setor de serviços foi o que há alguns meses vinha entre os que mais estavam expostos à alta de preços, essa desaceleração pode indicar nova tendência.
A nota negativa é a forte difusão da inflação. O IBGE não aponta um índice oficial de difusão, mas ele pode ser medido pelas estatísticas gerais. Índice de difusão é o número de componentes da cesta de consumo em ascensão. Mostra se a alta de preços está espalhada ou se está concentrada em alguns poucos produtos. E, desta vez, o índice de difusão ficou muito em cima, de 72,1% (em dezembro, havia sido de 69,3%).
É precipitação concluir que a inflação finalmente está sob rédea curta e em convergência para a meta de 4,5%, porque algumas variáveis não estão sob controle. Entre elas, a mais premente é o alcance da estiagem que está sendo sentida principalmente no Sudeste e no Centro-Oeste. Em algumas semanas pode prejudicar a oferta de alimentos de peso na cesta de consumo, como já ocorre com carnes e hortaliças. Este parece um caso de fator sazonal às avessas porque, nessa época do ano, o maior causador de alta dos hortigranjeiros não é propriamente a seca, mas, ao contrário, as chuvas, que dificultam o escoamento da produção para os grandes centros urbanos.
Outra variável de difícil controle é o comportamento dos preços administrados, aqueles que são determinados por decisão das autoridades. Chegou, por exemplo, o momento dos reajustes dos transportes urbanos, item que, desde o ano passado, se revelou altamente sensível à população. Esses reajustes estão muito atrasados e a tendência do governo agora é puxá-los para perto dos 10%, como já se confirmou no Rio de Janeiro.
Mesmo que ainda não se possa contar com a convergência da inflação para a meta, ficou agora mais provável que o Banco Central reduzirá a dose da alta dos juros básicos (Selic) de 0,50 ponto porcentual para 0,25 ponto porcentual ao ano.
É que a essa desaceleração da inflação pode-se acrescentar outro fator baixista, que é a mais fraca atividade econômica neste início do ano, como mostram os números decepcionantes da produção industrial. Convém ficar de olho nos recados do Banco Central que, em caso de mudança de ritmo, prefere antecipar de alguma maneira seus passos seguintes.
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