O Estado de S.Paulo - 08/02
Inflação oficial em queda foi a novidade boa, mas nem tanto, da primeira semana de fevereiro, marcada por mais um apagão, pelo miserável balanço da produção industrial em 2013 e pela notícia de um déficit comercial recorde em janeiro. A boa nova foi divulgada na sexta-feira. Ficou em 0,55%, no mês passado, a alta do IPCA, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, referência para a política de metas de inflação. Em dezembro o aumento havia chegado a 0,92% e a alta acumulada no ano, a 5,91%. Para janeiro as consultorias e instituições do mercado financeiro haviam projetado uma variação de 0,76%. O resultado efetivo foi bem melhor e o resultado de 12 meses caiu para 5,59%, ainda muito longe da meta, 4,5%, mas bem menos feio que o alcançado em dezembro.
Mas o governo deveria ser moderado na comemoração. Ainda há um longo caminho até se alcançar uma taxa mensal compatível com a meta de inflação anual. Nem para 2015 os técnicos do Banco Central (BC) projetam esse resultado. Além disso, o contágio inflacionário foi maior em janeiro que no mês anterior. O índice de difusão passou de 69,3% em dezembro para 72,1% no mês passado, segundo cálculo da Votorantim Corretora, divulgado logo depois de conhecidos os dados gerais do IPCA. Em resumo, quase três quartos dos itens cobertos pela pesquisa ficaram mais caros. Obviamente, os aumentos e repasses ocorrem com muita facilidade e isso torna mais complicado o combate à inflação.
A presidente Dilma Rousseff inicia seu quarto ano de governo com uma assustadora coleção de desafios - indústria emperrada, baixo nível de investimento público e privado, contas externas em deterioração, contas públicas novamente em perigo e intensa vigilância das agências de classificação de risco. A agenda é extensa e complicada e, para evitar um desastre maior, o governo terá de levar em conta, em todas as suas decisões, a persistente alta de preços.
Precisará resolver, em primeiro lugar, se o Executivo participará do combate à inflação ou se apenas continuará tentando maquiar os indicadores e deixando o trabalho sério para o BC. Não pode haver dúvida, neste momento, quanto a um novo aumento de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para os dias 25 e 26. Mas a presidente e sua equipe cometerão dois erros se escolherem o caminho mais cômodo e mais compatível, à primeira vista, com as conveniências eleitorais.
Para continuar maquiando os indicadores de inflação o governo terá de aumentar o subsídio ao consumo de eletricidade e a ajuda às empresas do setor. O custo fiscal dessa política poderá subir de R$ 9,7 bilhões em 2013 para algo entre R$ 16 bilhões e R$ 18 bilhões neste ano. As contas públicas serão prejudicadas, o espaço de manobra orçamentária será menor, as pressões inflacionárias persistirão e os consumidores de energia elétrica receberão um sinal errado.
Nenhum investidor ou financiador estrangeiro será enganado pela repetição de manobras desse tipo. A confiança na política econômica, já reduzida, continuará diminuindo. Se a piora da imagem externa comprometer o ingresso de capitais, uma das saídas será ajustar a política de juros para atenuar também esse problema.
No ano passado o investimento estrangeiro direto, US$ 64,04 bilhões, foi insuficiente para cobrir o déficit externo em transações correntes, US$ 81,37 bilhões. Para este ano o BC projeta um déficit de US$ 78 bilhões e investimento direto de US$ 63 bilhões. O superávit comercial, US$ 2,56 bilhões nos cálculos oficiais de 2013, deve subir para US$ 10 bilhões, segundo a mesma projeção.
Um superávit comercial de US$ 10 bilhões já ficará muito abaixo das necessidades brasileiras, por causa do enorme déficit nas contas de serviços e de rendas, mas até esse resultado medíocre parece duvidoso, neste momento. O déficit comercial de janeiro, US$ 4,06 bilhões, foi recorde, mas muito parecido com o de um ano antes, US$ 4,04 bilhões. Os saldos mensais poderão ser menos ruins no resto do ano, mas nada permite prever resultado final muito melhor que o de 2013. O pequeno superávit oficial do ano passado foi garantido pelo agronegócio (saldo de US$ 82,91 bilhões) e pelas exportações fictícias de plataformas de petróleo, no valor de US$ 7,74 bilhões. Nada justifica, neste momento, uma aposta num desempenho muito melhor da indústria no comércio exterior.
Com crescimento de 0,4% em 2011, redução de 2,5% em 2012 e nova expansão, de 1,2%, em 2013, a produção industrial do ano passado foi pouco inferior à de 2010, o último ano da gestão do presidente Luiz Inácio da Silva, quando o setor já estava enfraquecido.
A indústria, principalmente a de transformação, continuou perdendo vigor nos primeiros três anos da presidente Dilma Rousseff e a ceder espaço a concorrentes estrangeiros, tanto no exterior quanto no mercado interno. O crescimento de 13,3% da produção de bens de capital, no ano passado, festejado pelo governo como sinal de recuperação do investimento, foi insuficiente para neutralizar a queda do ano anterior e levar o resultado de volta ao nível de 2011.
No ano passado, a depreciação do real, embora tenha barateado os produtos brasileiros em dólares, foi insuficiente para impulsionar as exportações de manufaturados. Nesta altura, qual seria a taxa de câmbio necessária para compensar as ineficiências brasileiras e tornar a indústria mais competitiva? É inútil discutir esse ponto, até porque o BC tentará, em 2014 como em 2013, atenuar os efeitos inflacionários da depreciação cambial.
Uma política séria estaria voltada há muito tempo para o aumento da produtividade. No discurso, essa é uma prioridade oficial. Os fatos têm mostrado o contrário. A atenção à infraestrutura é recente e a colheita de resultados vai demorar. E isso é apenas, é bom lembrar, uma parte do enorme problema da competitividade.
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