sábado, fevereiro 08, 2014

O permanente apagão do sistema elétrico - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 08/02
A tergiversação tem sido a resposta mais frequente à crítica situação do fornecimento de eletricidade no país. Discute-se se os cortes de energia são "apagões" ou "blecautes", se os raios são ou não culpados, se o governo anterior ou o anterior ao anterior é que tem a culpa, se a descoberta de uma perereca rara no canteiro de obras é suficiente para paralisar a construção de uma hidrelétrica. Enquanto isso, esgota-se a paciência do consumidor e, pior, deixa-se exaurir insumo essencial ao crescimento da nação.
Não menos grave, apela-se para solução paliativa - que vai se eternizando -, com o acionamento das malfadadas termoelétricas. Além de caras e poluentes, por funcionarem com a queima de óleo, carvão ou gás, essas usinas cravam uma nódoa na ecologicamente elogiada matriz energética brasileira, ainda tida e havida como das mais limpas do mundo. Pouco importa às autoridades. A preocupação parece ser, tão somente, ganhar tempo para que se faça novamente a luz e todos se esqueçam de tudo até o apagão ou blecaute seguinte.

No mais, sucessivos governos têm rezado aos céus para chover e a conta cobrada pela sociedade - pessoas físicas e jurídicas - ser jogada para futuro incerto. Contudo, a insegurança da escuridão, seja ela literal, seja figurada, não passa. Tão grave é esse contexto que, mesmo o leilão tardio de mais uma (sem desmerecer a importância) linha de transmissão de energia como o realizado ontem, tem a força da oscilante chama de uma vela. E olha que o linhão de Belo Monte não é pouca coisa: deve ter mais de 2 mil quilômetros de extensão, custar cerca de R$ 5 bilhões e atender a rica Região Sudeste.

O consórcio vencedor, formado pela chinesa State Grid (51%) e pelas brasileiras Eletronorte (24,5%) e Furnas (24,5%), controladas pela Eletrobras, levou vantagem por oferecer deságio de 38% em relação ao valor máximo estabelecido para a Receita Anual Permitida (RAP): aceitou R$ 435 milhões, num teto de
R$ 701 milhões. Agora, é esperar para ver se a linha será entregue no prazo, de 44 a 46 meses a partir da assinatura dos contratos, sabendo-se, de antemão, que a regra é atrasar, tantos são os empecilhos, com exigências de licenças e imposições de burocracias de toda ordem.

Há mais de uma década chegamos a ponto de conviver com um racionamento de energia. À exceção de menos de um terço dos lares brasileiros, cujo consumo era inferior a 100KWh, o restante do país foi obrigado a escolher entre reduzir o consumo ou pagar mais caro pela eletricidade. A partir dali, o que mudou foi o olhar mais atento - e aflito - ao nível dos reservatórios das hidrelétricas.

Ou seja, permanece a dependência absoluta da nação aos índice pluviométricos. E brilha, como se tivesse luz própria, a fragilidade do sistema elétrico nacional, com falhas jamais explicadas consistentemente. Exemplo é a desta semana, quando 6 milhões de moradores de 13 estados e do Distrito Federal ficaram sem luz, enquanto reacendia-se o debate sobre os raios.

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