O Estado de S.Paulo - 01/02
O governo, em vez de fazer uma autocrítica e aceitar o esgotamento da nova matriz econômica, atribui a culpa do fracasso aos outros. Em 2011 e 2012 foram os países ricos com a guerra cambial; em 2013, a guerra psicológica dos analistas, empresas de rating e agentes econômicos. E em 2014, quem será a Geni? Provavelmente o Fed, que está alterando sua política monetária, além de analistas e empresas de rating novamente.
A responsabilidade pelo mau desempenho da economia brasileira nos últimos anos deve ser atribuída ao modelo de política econômica adotado, que gera desequilíbrios que resultam em maior incerteza quanto à evolução da economia, menor dinamismo dos investimentos e, consequentemente, crescimento mais baixo do PIB. O PIB em dólares deste ano já deve ser 4% abaixo do registrado em 2013.
Diante disso, enquanto o mais sensato seria a retomada da política econômica baseada em metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal, aponta-se que a solução seria a depreciação do câmbio.
Ao final de 2013, alguns renomados economistas voltaram a apontar a desvalorização da taxa de câmbio como a saída para o fim de todas as mazelas da indústria e da economia nacional. Em resumo, propõem uma desvalorização de cerca de 30%. Cogita-se, ainda, criar um novo regime cambial, fazendo o câmbio flutuar em torno de uma denominada taxa de equilíbrio industrial.
Tais propostas surpreendem, pois se sabe que a taxa de câmbio de equilíbrio no médio prazo depende unicamente dos termos de troca baseados na produtividade e na eficiência das economias. As taxas de juros e câmbio são resultado, ou seja, não se deve manipulá-las por decreto.
Ao longo das últimas décadas, todas as intervenções e buscas de soluções fáceis para superar nossas necessidades de financiamento nas contas externas conduziram a crises cambiais.
Algumas simulações mostram que uma desvalorização cambial de 30% elevaria o IPCA do ano (projetado em 6%) para 6,75%, sem, porém, contabilizar impactos em alguns preços administrados, como combustíveis. Com tal depreciação cambial, a defasagem dos preços externo e interno da gasolina passaria de 26% para 63%. No caso do diesel, subiria de 16% para 43,5%. Se a Petrobrás corrigisse integralmente a defasagem do preço da gasolina, os preços na bomba subiriam 44% e o impacto no IPCA seria de 1,7 ponto porcentual, o que elevaria a inflação a 8,45%.
Qual seria a reação do Banco Central (BC) nesse novo cenário? Certamente a taxa de juros seria elevada e isso teria impactos negativos em atividade, mercado de trabalho e massa de rendimentos, levando a um desempenho econômico pior ainda.
Com os sinais de mudança na política monetária americana e a pressão na taxa de câmbio, especialmente a partir de maio de 2013, o BC precisou vender, até dezembro, US$ 85 bilhões de swaps cambiais em termos líquidos, além de utilizar US$ 17 bilhões das reservas em linhas de financiamentos, para evitar uma depreciação ainda maior (que foi de 14% em 2013). Neste ano, até o dia 31 de janeiro, o BC já colocou mais US$ 15 bilhões em swap, cerca de US$ 4 bilhões acima do montante a vencer no início de fevereiro, totalizando uma exposição próxima a 28% das reservas internacionais.
O número de contratos em aberto evidencia a busca de proteção para os passivos cambiais, dado o temor de uma depreciação mais acentuada do câmbio, sobretudo quando se leva em conta a necessidade de financiamento externo crescente (que deve ser de US$ 150 bilhões neste ano, ante US$ 137 bilhões em 2013).
A falta de transparência e confiança nos dados, especialmente fiscais, deve continuar a resultar em perda de credibilidade pelos investidores, que devem penalizar o País, principalmente num contexto de liquidez mais restrita. Desta vez, a taxa de câmbio não deveria ser usada para salvar o País. A saída seria a adoção do tripé macroeconômico abandonado, no entanto, por uma nova equipe econômica. O desgaste e a baixa credibilidade da atual equipe econômica exigiriam a implementação dessa agenda por novos atores.
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