O GLOBO - 01/02
Há uma transição na política monetária americana, saíram US$ 12 bilhões dos países emergentes em janeiro, o pior número desde 2011. Nós estamos sendo colocados na lista dos vulneráveis. Nesses momentos, as autoridades devem ter em mente o cenário pior e torcer pelo melhor. E a equipe econômica está acreditando no melhor e desprezando os sinais de risco.
As avaliações otimistas das autoridades da área econômica ocupam largos espaços nos jornais. Espera-se que isso seja parte apenas do jogo de convencimento dos formadores de opinião; mas que eles estejam, na verdade, avaliando o que fazer se a turbulência for mais grave do que eles disseram que ela será.
Um transatlântico está fazendo uma manobra forte e isso provoca ondas. Temos vantagens e fragilidades diante da volatilidade das moedas e bolsas. O foco do governo tem que ser nas fragilidades; e o objetivo é como diminuí-las. Em vez disso, o governo está exagerando as vantagens, menosprezando os pontos fracos e repetindo o quanto somos diferentes de outros países que estão também sendo chacoalhados como Turquia, Índia, África do Sul.
Somos todos diferentes, mas o fato é que estamos sendo colocados no grupo dos países mais frágeis. Dois ou três dias de valorização da moeda não mudam o fato de que temos estado entre os mais voláteis. E não é sem motivo.
O Brasil teve um déficit em transações correntes de 3,6% do PIB em 2013. Não é o maior da história em percentual do PIB, mas em números absolutos, sim: US$ 81 bilhões. Isso é quase 50% maior do que o do ano anterior. O país teve um superávit comercial mínimo, o menor em uma década, e isso com a ajuda de exportações gráficas, que na verdade não ocorreram, de plataformas de petróleo.
As contas públicas fecharam com o menor superávit recente e não se cumpriu a meta, apesar de ela ter sido diminuída e ter contado com a ajuda de receitas extraordinárias, como Refis, concessões e o leilão do super campo de petróleo Libra. O Brasil está com bons dados no mercado de trabalho, mesmo assim há mistérios, como o gasto de R$ 44 bilhões de seguro-desemprego e abono salarial; a despesa tem sido crescente. Os gastos públicos cresceram 13,6% e as receitas 12,5%. Mas as autoridades falam que estão sendo austeras e contracionistas. A dívida pública bruta caiu um pouco, de 59% para 58,5% do PIB, mas estava em 53% em dezembro de 2010.
O Brasil está na lista dos países com inflação alta, sem contar os casos extravagantes da Argentina e Venezuela, que têm taxas que não fazem sentido no mundo de hoje. Índia, 9,9%; Indonésia, 8,4%; Turquia, 7,4%; Brasil, 5,9%; África do Sul, 5,4%; e México, 4%. No Brasil, o resultado só não foi maior porque o governo represou tarifas públicas. Isso teve custos. O Tesouro teve que abrir mão de R$ 11 bilhões de receitas da Cide para não subir a gasolina; outros R$ 11 bi em desonerações do IPI e outros impostos; teve que gastar US$ 10 bilhões para garantir a redução do preço da energia. O ano de 2014 começou com problemas na energia: choveu pouco em janeiro e os preços no mercado livre dispararam, o que pode elevar a conta do Tesouro.
A turbulência não é do tamanho da crise de 2008, longe disso. Nossas reservas são abundantes. Temos superávit primário, coisa que vários países não têm. Mas o mais eficiente é olhar os pontos fracos e se fortalecer, para enfrentar o sacolejar das ondas nesse momento. É ano eleitoral. É preferível que a economia não produza ruídos para que o eleitor faça sua escolha num debate sobre políticas públicas. Em ambiente assim, menosprezar o risco é um risco a mais.
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