CORREIO BRAZILIENSE - 01/02
Antes de passar o comando do FED (o banco central dos Estados Unidos) à sua sucessora, Janet Yellen, Ben Bernanke presidiu esta semana mais uma reunião do Comitê do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que manteve a decisão de reduzir o programa de estímulos à economia norte-americana. Em vigor desde setembro de 2012, o pacote provocava a desvalorização do dólar, com o aumento da oferta da moeda, por meio da compra mensal de US$ 85 bilhões de títulos em poder do mercado e da manutenção da taxa básica de juros em até 0,25% ao ano.
A clareza dos sinais de que a maior economia do planeta começa a superar a pior crise financeira desde 1929 foi o sinal para desativar gradualmente o programa. Na reunião anterior, o Fomc havia cortado US$ 10 bilhões dessa "ração" mensal. Na semana passada, cortou outros US$ 10 bilhões. Mais do que a velocidade, é a direção da mudança da política monetária que provoca turbulência no mercado financeiro internacional, principalmente nos países emergentes. A lógica do movimento aponta para provável elevação da taxa de remuneração dos bônus do Tesouro americano no fim deste ano ou início de 2015. E, como Janet Yellen era vice de Bernanke e permanece afinada com ele, só novo tropeço da economia norte-americana pode mudar essa direção.
A economia não é ciência exata, mas há máximas que não falham. Uma delas é que, além de não aceitar desaforo, o dinheiro não perde tempo. Bilhões de dólares estão retornando aos EUA, com a mesma velocidade com que de lá haviam fugido da desvalorização da moeda e dos juros que nem sempre cobrem a inflação anual (abaixo de 2%). Foi esse o aviso que os economistas mais experientes e menos entusiasmados com a animação artificial do consumo tentaram dar ao governo nos últimos anos.
Em vão. O Brasil não entra na turbulência provocada pelo FED (e também por uma acomodação de crescimento da China) com fragilidades tão acentuadas quanto a de crises anteriores. Tem reservas de US$ 376 bilhões, o deficit externo e o fiscal (3,7% e 3% do PIB) são crescentes e indesejáveis, mas administráveis. Porém, o país é pego em momento desfavorável, que poderia ter sido evitado.
O governo demorou a subir os juros para conter a inflação. Tivesse feito isso no tempo certo, já teria devolvido a Selic a patamares mais baixos e, hoje, poderia jogar com mais essa arma para atrair e segurar capitais, que querem escapar para Nova York. Em 2013, essa corrida já fez efeito. Os investimentos estrangeiros diretos no Brasil não conseguiram cobrir o desastroso deficit de US$ 81,4 bilhões nas transações correntes com o exterior. E, como nunca, o país precisa ampliar esses ingressos para investir em infraestrutura e destravar a economia.
Daí a importância de o país não perder o carimbo de destino confiável de capitais para investimento. Em 2013, os gastos públicos cresceram mais do que as receitas - 13,6% contra 12,8%, enquanto os investimentos foram apenas 6,4% maiores do que em 2012. Não fossem receitas extraordinárias, as metas fiscais, apesar de baixas, não teriam sido cumpridas. A hora pede a coragem de assinar um corte de pelo menos R$ 40 bilhões nos gastos (os R$ 28 bilhões de 2013 foram insuficientes). A dúvida é se a presidente Dilma fará isso ou dará prioridade ao calendário eleitoral.
A clareza dos sinais de que a maior economia do planeta começa a superar a pior crise financeira desde 1929 foi o sinal para desativar gradualmente o programa. Na reunião anterior, o Fomc havia cortado US$ 10 bilhões dessa "ração" mensal. Na semana passada, cortou outros US$ 10 bilhões. Mais do que a velocidade, é a direção da mudança da política monetária que provoca turbulência no mercado financeiro internacional, principalmente nos países emergentes. A lógica do movimento aponta para provável elevação da taxa de remuneração dos bônus do Tesouro americano no fim deste ano ou início de 2015. E, como Janet Yellen era vice de Bernanke e permanece afinada com ele, só novo tropeço da economia norte-americana pode mudar essa direção.
A economia não é ciência exata, mas há máximas que não falham. Uma delas é que, além de não aceitar desaforo, o dinheiro não perde tempo. Bilhões de dólares estão retornando aos EUA, com a mesma velocidade com que de lá haviam fugido da desvalorização da moeda e dos juros que nem sempre cobrem a inflação anual (abaixo de 2%). Foi esse o aviso que os economistas mais experientes e menos entusiasmados com a animação artificial do consumo tentaram dar ao governo nos últimos anos.
Em vão. O Brasil não entra na turbulência provocada pelo FED (e também por uma acomodação de crescimento da China) com fragilidades tão acentuadas quanto a de crises anteriores. Tem reservas de US$ 376 bilhões, o deficit externo e o fiscal (3,7% e 3% do PIB) são crescentes e indesejáveis, mas administráveis. Porém, o país é pego em momento desfavorável, que poderia ter sido evitado.
O governo demorou a subir os juros para conter a inflação. Tivesse feito isso no tempo certo, já teria devolvido a Selic a patamares mais baixos e, hoje, poderia jogar com mais essa arma para atrair e segurar capitais, que querem escapar para Nova York. Em 2013, essa corrida já fez efeito. Os investimentos estrangeiros diretos no Brasil não conseguiram cobrir o desastroso deficit de US$ 81,4 bilhões nas transações correntes com o exterior. E, como nunca, o país precisa ampliar esses ingressos para investir em infraestrutura e destravar a economia.
Daí a importância de o país não perder o carimbo de destino confiável de capitais para investimento. Em 2013, os gastos públicos cresceram mais do que as receitas - 13,6% contra 12,8%, enquanto os investimentos foram apenas 6,4% maiores do que em 2012. Não fossem receitas extraordinárias, as metas fiscais, apesar de baixas, não teriam sido cumpridas. A hora pede a coragem de assinar um corte de pelo menos R$ 40 bilhões nos gastos (os R$ 28 bilhões de 2013 foram insuficientes). A dúvida é se a presidente Dilma fará isso ou dará prioridade ao calendário eleitoral.
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