O Estado de S.Paulo - 13/02
Até junho do ano passado os Estados Unidos trabalhavam com a reeleição certa da presidente Dilma Rousseff. Desde os protestos, contudo, os informes enviados a Washington pela via diplomática consideram o cenário "em aberto".
Antes, previam-se mudanças no poder central só a partir de 2018. Agora se leva em conta a hipótese da alternância - em moldura remota - já em 2014.
Nessas avaliações, Dilma continua sendo considerada como favorita, com vaga assegurada no segundo turno. Mas, da constatação de que será uma eleição competitiva para a oposição surge a dúvida sobre quem será o oponente com mais chance de derrotá-la: Aécio Neves ou Eduardo Campos?
O interlocutor, representante do governo americano em uma capital dos três maiores colégios eleitorais do País, esquiva-se de quaisquer questionamentos sobre preferências.
Os Estados Unidos relacionaram-se bem com os governos Fernando Henrique, Luiz Inácio da Silva e Dilma Rousseff. Quanto a este, uma ressalva: "Com alguns problemas".
Nada, no entanto, que sugira torcida contra. A preocupação é objetiva: em que termos, em qual clima, com qual grau de agressividade ocorrerá uma campanha eleitoral no ambiente conturbado de evidente "mal-estar" (palavras dele) da população e com perspectivas nada animadoras para a economia, embora a baixa taxa de desemprego seja vista como ponto a favor.
Não existe a apreensão dos meses anteriores à eleição de Lula no ano de 2002. Há, sim, curiosidade sobre os desempenhos dos oposicionistas e uma indagação: sendo ambos representantes de linhagens políticas tradicionais e eles mesmos políticos profissionais, isso não poderia ser uma desvantagem diante do desejo da população por algo novo, distante dos partidos que alvo de rejeição?
O problema do "outsider" carismático é que no Brasil não deram em boa coisa. O americano lembra-se bem do desfecho dos governos Jânio Quadros e Fernando Collor, mostrados ao eleitorado como pessoas apartadas da política. Em alguma medida tal característica está na origem dos problemas enfrentados pela presidente Dilma.
Ante a constatação, o diplomata apenas sorri. Não concorda nem discorda. Seu governo, diz, só observa. Mais intrigado com o transcorrer da campanha e a coincidência da Copa, do que propriamente preocupado com quem vencerá. Qualquer um dos três estará bem, conclui, como convém aos meios e modos diplomáticos.
Agora, a vez de invertemos a curiosidade: no radar do governo americano está a possibilidade de o ex-presidente Lula vir a ser candidato no lugar de Dilma? O diplomata responde por si e, se instado a manifestar sua opinião aos superiores, diria que não. Avalia que seria imprudente Lula pôr em jogo o capital que conseguiu durante dois governos brindados com condições externas favoráveis, para se arriscar a perdê-lo em meio a uma nova situação adversa.
Ademais, o ex-presidente já não é visto como dono da mística de outrora. Perdeu parte do encanto.
Livre pensar. Discordar da apresentadora de telejornal que diz compreender o ato selvagem de se amarrar um ser humano nu a um poste porque o Estado falha na segurança pública é inerente ao exercício do contraditório.
Pretender transformar em crime a opinião da moça é um exagero tão equivocado quanto. Ela foi rasa no raciocínio? Foi. Não atinou para o fato de que corroborava a execução de um crime? Não. Aliou-se aos impulsos da maioria, quando seu papel seria o de buscar o ponto de equilíbrio? Sim. Mas, o pensar e se expressar não configura ilicitude. Ainda que determinados raciocínios não façam a devida distinção entre a defesa da legalidade e a aceitação da lei da selva como substituta das carências do poder público.
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