FOLHA DE SP - 13/02
O Fed, banco central dos EUA, engrossou o coro dos analistas e investidores que enxergam sérias fragilidades na economia brasileira.
Num relatório divulgado anteontem, o órgão classificou o Brasil como o segundo mais vulnerável a choques externos, numa lista com 15 países emergentes --somente melhor do que a Turquia. Não é por acaso que o real foi uma das moedas que mais se desvalorizou desde abril do ano passado.
O documento do Fed aglutina seis indicadores em um único índice e visa a antecipar problemas financeiros. Um aumento muito rápido do volume de empréstimos, por exemplo, sugere critérios pouco cuidadosos de concessão de crédito por parte dos bancos e, portanto, maior risco de inadimplência.
O deficit externo elevado (3,7% do PIB no caso brasileiro), por sua vez, pode favorecer desvalorizações abruptas da moeda, gerando pressões inflacionárias.
Se os preços estiverem em alta acelerada, o Banco Central terá mais dificuldade em controlá-los. Nesse cenário, os juros sobem e o crescimento cai.
Além desses, a dívida do governo também aparece como um risco. Um valor elevado (no Brasil, ela está em 60% do PIB, muito acima da média dos emergentes) implica margem de manobra menor para combater um quadro recessivo, o que em geral é feito com o aumento dos gastos.
Ao emprestar a qualquer governo, os mercados consideram a possibilidade de calote. Se ela for alta, demandarão juros maiores. Cria-se um círculo vicioso que o Brasil conhece: torna-se mais difícil crescer, o que piora problemas de crédito, o que gera desconfiança etc.
Cabe destacar, no entanto, que a métrica do Fed é apenas uma simplificação que não permite fazer inferências qualitativas. Estas, muitas vezes, são as mais importantes.
A composição da dívida pública, por exemplo, é bastante melhor do que há uma década. Como as reservas superam o valor que o governo deve em dólares, uma desvalorização do real traz ganhos ao Tesouro. É um elemento estabilizador que reduz o risco de calote.
Embora não deva ser tomado pelo valor de face, seria um erro ignorar o alerta, que incomoda investidores e, cada vez mais, também a população.
No caso da inflação, em especial, a sensação é de aperto no bolso. A despeito do aumento dos juros, os preços dos serviços continuam subindo no ritmo de 8% ao ano.
O governo acredita que o mercado começa a diferenciar o Brasil de emergentes em situação mais delicada. Contar com isso não basta. É preciso agir de forma inequívoca para reduzir as vulnerabilidades. Fora a resposta de sempre --juros altos--, pouco se vê nesse sentido.
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