FOLHA DE SP - 07/01
Mudanças ministeriais parecem atender apenas ao objetivo de Dilma Rousseff contar com maior tempo de propaganda eleitoral
Raros eventos realçam com tanta clareza o pouco préstimo dos 39 ministérios brasileiros quanto as rotineiras reformas promovidas às vésperas de eleições.
Não que, com uma ou outra exceção, as próprias dificuldades de planejar e executar projetos já não sejam atestado convincente da ineficiência da máquina pública federal --um padrão que se repete nas esferas estadual e municipal.
Tais demonstrações de incompetência administrativa, porém, talvez por sua transformação em prática cotidiana, terminam confundidas com simples falhas cometidas ao longo da cadeia de comando. Como deficiências pontuais, e não estruturais, seriam passíveis de algum tipo de conserto.
A ilusão se desfaz quando, por força de lei, auxiliares da Presidência interessados em disputar cargos eletivos precisam se afastar de seus postos. Idealmente, seria uma boa ocasião para corrigir rumos do governo; a recomposição ministerial, no entanto, costuma seguir orientações menos nobres.
Tome-se o governo Dilma Rousseff (PT), que deve resolver a questão até março. Não é segredo em Brasília que a presidente pretende aproveitar os postos vacantes para engordar sua já balofa coalizão e, com isso, ampliar sua exposição no rádio e na televisão durante a campanha pela reeleição.
Se tudo sair como quer o Planalto, a aliança de Dilma terá 12 partidos, o que lhe poderia garantir inéditos 49% do tempo de propaganda eleitoral --a maior marca, até aqui, são os 47% de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1998. A cada bloco de 25 minutos na TV, a presidente teria, nesse cenário, mais de 12 minutos.
Seu sucesso na empreitada, ao que tudo indica, dependerá menos da compreensível ausência de quadros nos partidos menores --nomes qualificados escasseiam mesmo no PT-- do que da voracidade do PMDB, sempre disposto a abocanhar novos pedaços do governo.
Se conduzidas sobre bases programáticas e transparentes, negociações por espaço na administração federal não são, em si, um problema. No Brasil, todavia, os vícios patrimonialistas e fisiológicos são tão fortes que se torna quase impossível distinguir a politicagem rasteira da gestão profissional.
O ceticismo quanto à atuação do poder público é, em larga medida, consequência desses acordos espúrios. Romper o ciclo deletério demandaria disposição para reduzir o número de pastas e cargos de livre nomeação, para nada dizer da observância de critérios de eficiência e competência.
Em vez disso, com a reforma que fará, Dilma Rousseff parece propensa a evidenciar que nem ela tem seus ministérios em alta conta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário