O Estado de S.Paulo - 07/01
Ninguém pode duvidar que muitos dos principais problemas da economia brasileira resultam de disfunções e distorções domésticas. Do mesmo modo, ninguém deveria desconsiderar a influência dos movimentos da economia internacional na mitigação ou acentuação desses problemas.
É mais provável que os desenvolvimentos no exterior não determinem a trajetória aqui dentro. Mas, como costuma ocorrer, também é provável que colaborem para reforçar tendências. Na conjuntura de 2014, a chave externa pode ganhar proeminência. Afinal, é no intervalo delimitado, de um lado, pela esperada recuperação mais firme das economias centrais e, de outro, pelos previstos movimentos no mercado global de capitais, a partir da contração da liquidez nos Estados Unidos, que será traçado o desenho de 2014.
A economia brasileira, ainda muito fechada ao exterior, mantém participação mínima, que mal chega a 1%, no comércio internacional. Apesar disso, a curva representativa de seu crescimento econômico, ao longo dos anos, historicamente acompanha a da expansão da economia global. Nas últimas seis décadas, por exemplo, com exceção da chamada "década perdida", entre meados dos anos 80 e 90, as duas curvas andaram no mesmo passo.
Ajustes. Interessante notar que essa trajetória independe, pelo menos em alguma medida, das políticas econômicas adotadas. O governo FHC, por exemplo, promoveu ajustes de grande relevância, mas nem por isso escapou de resultados medíocres e de restrições externas severas, atropelado por sucessivas crises financeiras globais. Já Lula, sem avançar em reformas macroeconômicas, surfou numa onda gigante de liquidez internacional, que permitiu, com o impulso das receitas de exportação de commodities, destravar as contas externas, atender a antigas necessidades de inclusão social e alavancar o crescimento da economia.
Culpam-se hoje as tentativas de alterar princípios de política econômica mais ortodoxos, adotados por Fernando Henrique e mantidos por Lula, pelo fraquíssimo comportamento macroeconômico sob o comando da presidente Dilma Rousseff. Pode ser verdade, mas fica difícil desprezar o fato de que, justamente nos últimos três anos, a economia global andou de lado, para dizer o mínimo. Na média do período, o crescimento mundial estacionou pouco acima de 3% ao ano, vindo de uma etapa em que a expansão das atividades no mundo, entre 2002 e 2007, avançou perto de 5% anuais.
Não cabe, evidentemente, justificar os resultados caseiros apenas com base nos vaivéns da economia internacional, ainda que as influências externas façam parte do jogo. Vale, contudo, introduzir, nas projeções para 2014 e os próximos anos, a hipótese de uma recuperação mais consistente das economias ao redor do mundo. Com essa hipótese ativada, os resultados efetivos podem até surpreender.
Sinais de expansão da economia global, a partir de 2014, ainda não estão consolidados, mas se mostram cada vez mais claros. Nos cenários tidos como mais prováveis neste começo de ano, os Estados Unidos voltam a puxar o trem e a Europa, finalmente, sairá da estagnação. China - e outros emergentes - também crescem, se bem que menos do que cresciam até o início da década atual.
Estados Unidos. Há um justificado temor em relação ao que possa ocorrer com a operação de desmonte do programa de injeção de liquidez promovido pelo Federal Reserve, nos últimos anos. O maior medo é o de que os juros nos Estados Unidos avancem rápido demais, aspirando recursos das economias emergentes em volumes excessivos, produzindo desequilíbrios cambiais e pressões inflacionárias. Mas, depois dos primeiros atos do "tapering", aumentaram as esperanças, compartilhadas pelo FMI, de que o processo facilite uma reativação do comércio internacional e promova, tudo ponderado, benefícios líquidos gerais, inclusive a emergentes.
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