O Estado de S.Paulo - 07/01
A maioria dos analistas da economia brasileira dá os trâmites por findos e já não espera nenhuma reforma e nenhum ajuste de expressão na política econômica brasileira neste 2014, ano de eleições... Então, fica para 2015.
Mas o que, afinal, fica para 2015? Em princípio, esses ajustes compreenderiam substancial aperto nas contas públicas, correção dos preços administrados (tarifas de energia, combustíveis e transportes urbanos) e retirada progressiva, talvez em ritmo mais acelerado, das bondades tributárias concedidas a setores da iniciativa privada ao longo dos três últimos anos. Até mesmo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem avisado que ninguém deve mais esperar por redução de impostos e desoneração tarifária.
Em todo o caso, é preciso saber se, mesmo na hipótese de reeleito com boa margem de votos, um novo governo Dilma enfrentaria uma agenda destinada a recobrar a confiança e o investimento privado. Aparentemente não. Apesar de eventuais concessões, a presidente Dilma não vê com bons olhos uma guinada ortodoxa destinada a arrumar a casa.
O discurso das autoridades hoje no comando é o de que a maior parte dos problemas estará superada se a economia mundial retomar a velocidade de cruzeiro. É a aposta repetidamente anunciada pelo ministro Mantega. Mas não se pode contar com isso, pelo menos nas proporções desejadas. A recuperação global segue a passos de tartaruga e o desmonte das operações artificiais sustentadas pelos grandes bancos centrais destinadas a induzir à recuperação e ao emprego deverá continuar a gerar turbulências em 2014 e, possivelmente, também em 2015.
Mas o governo pode vir a ser forçado a fazer um ajuste, que hoje preferiria descartar, se acontecer deterioração maior do que a esperada das contas públicas e/ou das contas externas, que desemboque no rebaixamento da qualidade dos títulos da dívida brasileira e dificulte ainda mais a entrada de investimentos externos. Ou então poderá dar uma guinada em direção à arrumação, se as contradições internas exigirem opção radical.
Uma delas seria a necessidade de aceitar uma desvalorização maior do real (alta do dólar). Nesse caso, o governo teria de barrar o repique inflacionário com uma condução mais responsável das contas públicas. Outra distorção que pode acirrar-se e terá de ser resolvida é o crescimento bem mais alto do consumo em relação ao avanço do PIB. Isso se conserta com mais produção e com mais investimento.
Mais produção e mais investimento, por sua vez, pedem mais força à formação de poupança, um dos requisitos que são objeto de insistência do Banco Central. Pedem, também, providências destinadas a aumentar a produtividade da força de trabalho. Até agora, a economia cresceu graças à incorporação da mão de obra disponível. Esse recurso já deu o que tinha de dar porque, mesmo a esse ritmo insatisfatório, a economia vive situação muito próxima do pleno-emprego. Um crescimento mais forte vai produzir escassez de mão de obra. Agora, é preciso garantir mais eficiência do trabalho e isso está pedindo mais educação, mais treinamento e, mais que tudo, modernização da legislação trabalhista.
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