O Estado de S.Paulo - 17/01
Os brasileiros não estão propriamente com o coração na boca à espera do que decidirá a presidente Dilma Rousseff sobre a reforma ministerial depois que tiver voltado, no dia 29, de um peculiar rolê por Davos, Havana e Caracas. Por dever de ofício a imprensa registra os encontros entre ela e seu vice, Michel Temer, presidente de facto do PMDB, assim como as reuniões entre ele e a cúpula da agremiação, sedenta por mais ou melhores posições na Esplanada.
Mas o público sabe intuitivamente que, na mais caridosa das hipóteses, o governo continuará sendo a lástima que é em matéria de competência administrativa do seu primeiro escalão, sejam lá que siglas e quais dos seus ungidos se aboletarão nas pastas que vagarem com a saída de titulares que pretendem se candidatar a mandatos eletivos ou pela substituição dos interinos.
Fala-se, evidentemente, daqueles Ministérios passíveis de barganhas com a base aliada, o que exclui, por definição, os 18 em posse do PT, do enxundioso Gabinete de 39. Envolvem repartições poderosas ou insignificantes. Entre as primeiras o PMDB saliva pela Integração Nacional, como é designado o que, em essência, é um Ministério do Nordeste, com recursos e empregos para oligarca nenhum pôr defeito.
A pasta, feudo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, era ocupada por seu aliado e também pernambucano Fernando Bezerra Coelho. Com a pré-candidatura de Campos e a saída do pessoal que ele alojara no Planalto, Coelho foi substituído interinamente pelo engenheiro civil cearense Francisco Teixeira, que já ocupava a Secretaria de Infraestrutura Hídrica do setor.
Mas talvez ele não tivesse sido alçado ao comando do Ministério, apesar de suas credenciais, não fosse o patrocínio dos seus mais influentes conterrâneos, os irmãos Gomes, Cid, o governador, e Ciro, o ex-muitas coisas, ambos caciques do recém-formado Pros. A Integração é o único Ministério da nova sigla - e talvez seja mais fácil o sertão virar mar do que Dilma removê-la desse privilegiado espaço em benefício do PMDB a quem Ciro tem aversão (o sentimento é correspondido).
Celebrizada por sua voracidade, a legenda - a segunda maior da Câmara e a primeira do Senado - se considera sub-representada no Executivo, com cinco pastas. Só que o seu poder de pressão ficou enfraquecido com as atribulações maranhenses do soba José Sarney e o desgaste do seu sucessor na presidência do Senado, Renan Calheiros, depois da sua grotesca tentativa de repassar ao contribuinte a conta do implante capilar a que se submeteu.
De mais a mais, Dilma conta com o vice Michel Temer, que não tem nenhuma intenção de alimentar um conflito que possa culminar com a deserção de seu partido da reeleição da presidente, logo, com sua substituição na chapa por outro alguém. Temer há de ter parte com a presumível demanda peemedebista pela Secretaria dos Portos, ocupada interinamente pelo economista Antonio Henrique Pinheiro, egresso da Fazenda.
No Congresso e na Secretaria de Governo de São Paulo, exerceu notória influência sobre a estatal que administra o Porto de Santos. Ele não se fará de rogado para indicar um nome para o lugar de Pinheiro, com o que o PMDB, ostentando contrariedade, como de praxe, aceitará a compensação por não ter abocanhado a Integração. De resto, os profissionais da sigla conhecem os seus limites e a natureza do jogo.
Sabem que a prioridade para Dilma é abrigar na Esplanada o maior número de siglas, a exemplo do PTB, que se desgarrou do Planalto depois que o seu chefe Roberto Jefferson denunciou o mensalão e arfa pela oportunidade de voltar, na pessoa de seu presidente Benito Gama, cotado para o Turismo.
Os enlaces partidários de Dilma não visam à multiplicação dos seus palanques pelo Brasil afora. Disso Lula cuida. O que ela quer é ter no horário eleitoral tempo à farta, o que se consegue incluindo mais letrinhas na sopa da coligação. A meta é ter pelo menos tempo igual ao de todos os outros candidatos somados. Se pudesse, criaria tantos quantos "Ministérios da Reeleição" fossem necessários para satisfazer todos os interessados. E o País, como disse aquele deputado da opinião pública, "que se lixe".
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