sexta-feira, janeiro 17, 2014

Baixar juros exige mais do que discurso - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 17/01
A escalada da Selic prova que domar juros exige algo mais que vontade pessoal. Dilma Rousseff queria derrubar a taxa para níveis civilizados, abaixo de dois dígitos. Prometeu baixar a 2% ao ano a taxa real (a Selic, descontada a inflação). Conseguiu. Em dezembro de 2012, comemorou a mínima de 1,39%.
Não foi fácil atingir tal patamar. Em julho de 2011, poucos meses depois de a presidente assumir o poder, o índice bateu em 12,5% nominais. A partir daí, começou o processo de queda, até chegar a 7,25%, em outubro de 2012. Os bancos oficiais tiveram de oferecer crédito mais barato, a fim de forçar as demais instituições de crédito a ceder. Até as regras da poupança sofreram mudanças para viabilizar o esforço.

A inflação, porém, obrigou a volta atrás. Em dezembro, o dragão surpreendeu até os pessimistas. Fez 2013 fechar em 5,91%, acima dos 5,84% do ano anterior. O resultado frustrante - depois do empenho de subsidiar o preço da energia e conter artificialmente reajustes como o dos combustíveis e das tarifas de transporte - obrigou o Comitê de Política Monetária a dar a mesma resposta pela sétima vez seguida.

Em decisão unânime, o Copom engordou a Selic em 0,5 ponto percentual. Pior: no comunicado, deixou a porta aberta para novo salto no próximo mês. A trajetória permite concluir que Dilma encerrará o mandato com índices semelhantes aos herdados do antecessor. Lula entregou a chave do Planalto à sucessora com juros de 10,75%, considerados insuficientes para domar a teimosa elevação de preços.

O Banco Central, com acerto, fechou os olhos para o preocupante desempenho da economia, que minguou 0,5% no terceiro trimestre do ano passado. Entre a cruz e a espada, atacou o flagelo cujas consequências se mantêm na memória de muitos brasileiros. Único remédio adotado pelo governo para conter a pressão inflacionária, a via monetária tem-se mostrado insuficiente.

Impõe-se aviar outras receitas. Uma delas: desindexar a economia. Preços atrelados a taxas, como aluguéis e tarifas públicas, remetem aos tempos da hiperinflação, da qual o país se livrou graças ao Plano Real. Outra: promover as reformas estruturais aptas a aliviar a camisa de força que impede voos sustentáveis do Produto Interno Bruto (PIB) e do Índice de Desenvolvimento Humano nacionais. Entre elas, a tributária e a da administração do Estado.

Baixar os juros e combater a inflação ao mesmo tempo são tarefas complexas. Exigem algo mais que desejos, discursos e arroubos autoritários. Melhor seria começar pela desmontagem de problemas antigos - verdadeiros causadores da desordem econômica.

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