O GLOBO - 18/01
Novas formas de protestos mostram o total despreparo dos responsáveis pela segurança pública ou privada para atuar em eventos com grande número de pessoas
Em ano eleitoral as manifestações públicas costumam repercutir com maior intensidade. Em tempo de Copa do Mundo os protestos extrapolam as fronteiras internacionais. A novidade deste início de ano é o tal do “rolezinho” que vem acontecendo nos shoppings paulistas. Embalados pela repercussão midiática, os ativistas virtuais do Rio decidiram convocar, através das redes sociais, um ato semelhante, neste fim de semana, em um shopping carioca. Até agora mais de cinco mil pessoas já confirmaram a participação. A violência decorrente deste ato dependerá exclusivamente do humor dos participantes e dos envolvidos nesse jogo de fortes emoções. O noticiário do dia seguinte é totalmente imprevisível.
Essas novas formas de protestos mostram o total despreparo dos responsáveis pela segurança pública ou privada para atuar em eventos que concentram grande número de pessoas. O aumento significativo de roubos e de atos de violência ocorridos recentemente em locais de grande concentração de pessoas no Rio comprova que está havendo um enfraquecimento do pacto de convivência pacífica estabelecido na cidade.
Para enfrentar esse tipo de ocorrência não basta a ação do recém-anunciado Batalhão de Policiamento em Grandes Eventos. Sem a incorporação de outras instituições públicas para dar suporte ao policiamento ostensivo, dificilmente se conseguirá afastar o espectro da violência que impede o convívio amistoso na cidade.
Até mesmo as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) se ressentem da falta desse apoio logístico. Atualmente, elas correm o risco de serem desconstruídas pela inexistência de uma ação institucional paralela que assegure a construção de um ambiente efetivamente democrático nos territórios ocupados. Se as intervenções se limitarem exclusivamente à presença da Polícia Militar não há dúvida de que a indefectível opressão imposta pelos marginais estará sendo trocada por outra espécie de poder autoritário. Construir uma cidade pacificada ultrapassa os limites das soluções imediatistas ou de curto prazo.
Felizmente, por obra e graça da natureza e da sua tradição cultural, o Rio possui um extraordinário potencial a ser explorado por atividades diversas, especialmente pelo turismo. Quando planejado e executado em sintonia com as características específicas da cidade, o turismo cria uma nova dinâmica econômica e social e um círculo virtuoso capaz de alavancar um desenvolvimento urbano sustentável.
A expansão da rede hoteleira, a oferta de um sistema de transporte coletivo de boa qualidade, a requalificação dos espaços urbanos e dos parques e jardins, a despoluição das praias, rios e lagoas, a recuperação ambiental da Baía da Guanabara, as melhorias na pavimentação de ruas e calçadas, os cuidados com a arborização e, obviamente, a presença efetiva de policiamento nos espaços públicos contribuirão para elevar a autoestima da população, a sua qualidade de vida e a valorização da imagem da cidade.
Barcelona mostrou como isso foi possível com a realização das Olimpíadas de 1992. Paris, Londres, Roma e outras tantas cidades espalhadas pelo mundo compreenderam a importância de conciliar as suas atividades rotineiras com o fluxo permanente de turistas. Se comparado com essas cidades, não há dúvida de que o turismo no Rio ainda está engatinhando.
Todavia, é importante frisar que não existem soluções mágicas e que o Rio não comporta modelos encapsulados de projetos que desprezam as suas especificidades ambientais, sociais e culturais. Qualquer ação transformadora da espacialidade urbana da cidade deve ser planejada de forma a assegurar, prioritariamente, uma maior aproximação entre as pessoas, e delas com a própria cidade. E a segurança pública é um dos meios para garantir essa convivência pacífica. Talvez este seja um dos principais legados a serem conquistados para a cidade.
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