O ESTADO DE S. PAULO - 28/12
A inflação do próximo ano continuará bem acima da meta oficial, de 4,5%, e dificilmente será menor que a deste ano. A alta de preços continuará doendo no bolso, como doeu em 2013, apesar do controle político das tarifas de energia, dos preços da gasolina e do custo do transporte urbano. Mesmo com esses truques, chegou a 5,51% em 2013 a inflação medida pelo índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Fechado no dia 20 de cada mês, esse indicador antecipa os demais e oferece um panorama amplo das condições do atacado, dos preços no varejo e dos custos da construção civil. Neste momento, é importante também por desmentir mais uma vez um dos mitos difundidos pelo governo para explicar - ou justificar - a explosão dos aumentos nos últimos três anos. Segundo esse mito, a alta de preços no Brasil seria explicável, em grande parte, pela alta das cotações internacionais dos produtos agrícolas e de outras matérias-primas.
Neste ano, os preços no atacado subiram 5,12%, bem menos que em 2012. Também no atacado, os produtos agropecuários ficaram 1,49% mais baratos, em 12 meses, mas o custo da alimentação subiu 9,16% no varejo. Outros mecanismos, a começar pela demanda interna, explicam a alta de preços e a difusão dos aumentos no Brasil.
Essa demanda tem sido alimentada pelo excesso de gastos públicos, pela rápida expansão do crédito nos últimos anos (só recentemente os financiamentos ficaram um pouco mais escassos) e pelo alto nível de emprego. A elevação dos salários, sem um correspondente ganho de produtividade, tem fortalecido a demanda dos consumidores.
Ao mesmo tempo, esses aumentos pressionam os custos de produção e prejudicam o já reduzido poder de competição das indústrias, dificultando suas exportações e facilitando o ingresso de produtos estrangeiros. Ao longo do ano, os produtos industriais encareceram 7,82% no atacado. Há evidentes pressões de custos, apesar do baixo ritmo de crescimento econômico do País. Nenhum segmento da produção e da circulação de bens e serviços é imune aos danos de uma inflação tão alta e tão difundida quanto a brasileira. A erosão do saldo comercial do País é em parte explicável pela inflação, um dos muitos entraves à competitividade.
Tentar compensar esse efeito pela depreciação cambial é só uma forma de empurrar o problema. A desvalorização da moeda em relação ao dólar poderá tornar a produção nacional mais competitiva por algum tempo, mas esse efeito logo será anulado por mais inflação.
Política de competitividade baseada no câmbio é um erro grave, quando faltam um bom manejo das contas públicas e um esforço contínuo de controle da inflação - algo muito diferente do mero tabelamento político de preços de bens e tarifas de serviços públicos.
No Brasil, o combate à inflação tem ficado sob responsabilidade exclusiva do Banco Central (BC). Mas nem isso funcionou durante algum tempo. Entre agosto de 2011 e abril deste ano a política monetária foi afrouxada e ajustada às preferências da presidente Dilma Rousseff, com resultado, como se previa, muito ruim. Com a reputação manchada pela aparente subserviência ao Palácio do Planalto, o Comitê de Política Monetária do BC resolveu mudar de rumo e começou, afinal, a aumentar os juros para conter a disparada dos preços.
Em novembro o comitê elevou os juros básicos para 10%. Segundo as projeções coletadas no mercado financeiro, haverá mais um ou dois aumentos em 2014 e a taxa será elevada para 10,25% ou 105%*
Segundo vários analistas, o ciclo de alta vai terminar em janeiro. Isso parece compatível com os interesses eleitorais do governo, mas o assunto é mais complicado. Segundo o governo, a inflação oficial, medida pelo índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve ser este ano menor que a de 2012 (5,84%). Na prévia de dezembro, o IPCA-15 acusou alta mensal de 0,75% e um acumulado anual de 5,85%. O resultado final deve ser conhecido no começo de janeiro. Poderá ser melhor que isso, mas o ganho será pífio. O BC cometerá um erro enorme se encerrar o aperto antes da hora.
Neste ano, os preços no atacado subiram 5,12%, bem menos que em 2012. Também no atacado, os produtos agropecuários ficaram 1,49% mais baratos, em 12 meses, mas o custo da alimentação subiu 9,16% no varejo. Outros mecanismos, a começar pela demanda interna, explicam a alta de preços e a difusão dos aumentos no Brasil.
Essa demanda tem sido alimentada pelo excesso de gastos públicos, pela rápida expansão do crédito nos últimos anos (só recentemente os financiamentos ficaram um pouco mais escassos) e pelo alto nível de emprego. A elevação dos salários, sem um correspondente ganho de produtividade, tem fortalecido a demanda dos consumidores.
Ao mesmo tempo, esses aumentos pressionam os custos de produção e prejudicam o já reduzido poder de competição das indústrias, dificultando suas exportações e facilitando o ingresso de produtos estrangeiros. Ao longo do ano, os produtos industriais encareceram 7,82% no atacado. Há evidentes pressões de custos, apesar do baixo ritmo de crescimento econômico do País. Nenhum segmento da produção e da circulação de bens e serviços é imune aos danos de uma inflação tão alta e tão difundida quanto a brasileira. A erosão do saldo comercial do País é em parte explicável pela inflação, um dos muitos entraves à competitividade.
Tentar compensar esse efeito pela depreciação cambial é só uma forma de empurrar o problema. A desvalorização da moeda em relação ao dólar poderá tornar a produção nacional mais competitiva por algum tempo, mas esse efeito logo será anulado por mais inflação.
Política de competitividade baseada no câmbio é um erro grave, quando faltam um bom manejo das contas públicas e um esforço contínuo de controle da inflação - algo muito diferente do mero tabelamento político de preços de bens e tarifas de serviços públicos.
No Brasil, o combate à inflação tem ficado sob responsabilidade exclusiva do Banco Central (BC). Mas nem isso funcionou durante algum tempo. Entre agosto de 2011 e abril deste ano a política monetária foi afrouxada e ajustada às preferências da presidente Dilma Rousseff, com resultado, como se previa, muito ruim. Com a reputação manchada pela aparente subserviência ao Palácio do Planalto, o Comitê de Política Monetária do BC resolveu mudar de rumo e começou, afinal, a aumentar os juros para conter a disparada dos preços.
Em novembro o comitê elevou os juros básicos para 10%. Segundo as projeções coletadas no mercado financeiro, haverá mais um ou dois aumentos em 2014 e a taxa será elevada para 10,25% ou 105%*
Segundo vários analistas, o ciclo de alta vai terminar em janeiro. Isso parece compatível com os interesses eleitorais do governo, mas o assunto é mais complicado. Segundo o governo, a inflação oficial, medida pelo índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve ser este ano menor que a de 2012 (5,84%). Na prévia de dezembro, o IPCA-15 acusou alta mensal de 0,75% e um acumulado anual de 5,85%. O resultado final deve ser conhecido no começo de janeiro. Poderá ser melhor que isso, mas o ganho será pífio. O BC cometerá um erro enorme se encerrar o aperto antes da hora.
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