O Estado de S.Paulo - 28/12
O fim de ano sempre traz um clima de otimismo. Seria de esperar o mesmo para a economia brasileira em 2014. Enfim, assim tem sido nos últimos anos, comparando as estimativas do relatório Focus das últimas semanas do ano findo com o desempenho da economia no ano seguinte. Existem ainda outras razões para otimismo. O cenário internacional indica tendência de recuperação da economia americana. A economia europeia caminha para sua recuperação e muitas das economias asiáticas manterão níveis relativamente elevados de crescimento. Não há sinais de crises relevantes no cenário internacional.
Internamente, há expectativas de eventos que poderiam contribuir para um crescimento maior da economia. São exemplos os impactos da Copa do Mundo sobre as atividades da cadeia produtiva do turismo em todas as suas dimensões e das concessões já realizadas e programadas para a infraestrutura. Ademais, como será um ano de eleições gerais, espera-se, como comprova a história, aumento dos gastos públicos nas três esferas de governo, o que poderia adicionar alguns pontos porcentuais na combalida economia. Também, por ser ano eleitoral, o governo não deverá apertar a política monetária para conter a aceleração da inflação. Ao contrário, manterá todos os estímulos à expansão do consumo, visando a garantir baixo o desemprego e alta a avaliação popular do governo.
Esse quadro de otimismo contrasta com a realidade. No final deste ano as previsões para o crescimento em 2014 são as mais baixas dos últimos cinco anos. As estimativas do mercado não passam de 2%, sugerindo crescimento mais baixo que em 2013. Ronda o País a possibilidade de um rebaixamento da avaliação das agências de rating, com o olho na deterioração das contas públicas e no desmonte do tripé de política macroeconômica. O desequilíbrio fiscal continuará em 2014. Suas principais causas (crescimento do salário mínimo, aumento do emprego e salários no governo e desperdício nos gastos públicos) não serão enfrentadas em ano eleitoral. O superávit primário continuará sendo uma ficção da contabilidade criativa. Dificilmente haverá espaço para o governo usar os gastos públicos para estimular o crescimento econômico, como observou Affonso Pastore em artigo neste jornal (10/11).
O programa de concessões não tem atraído investimentos externos. Ao contrário, o modelo adotado compensa a baixa taxa interna de retorno com financiamento subsidiado do BNDES, que utiliza recursos transferidos pelo Tesouro, resultando em aumento da dívida pública. A expansão das concessões é, assim, limitada e tem efeitos negativos sobre o equilíbrio fiscal. Ademais, o ciclo de investimentos em infraestrutura indica que as concessões realizadas este ano não impactarão a economia em 2014. Elaboração de projetos, aprovação de licença ambiental e negociação de financiamento com o BNDES serão necessárias para o início das obras. Os impactos positivos somente virão nos próximos governos.
Sobra, então, a possibilidade dos efeitos da demanda aquecida. Como o desemprego é baixo, o crescimento da economia depende do aumento da produtividade, que, por sua vez, deriva da elevação do grau de escolaridade da mão de obra, da inovação e do uso de novas tecnologias. Nada que aconteça no curto prazo.
Assim, não há razões para esperar variação mais alta do PIB em 2014. Será a inflação que tenderá a crescer pelas mesmas razões que tem crescido em 2013: pressão dos preços de serviços e alimentos. Sem desemprego e com os impactos da Copa na expansão do consumo, o governo continuará a fazer uso do controle dos preços administrados, como energia, gasolina, diesel, transportes urbanos, etc., para conter o nível de inflação próximo ao limite superior da meta. Como será ano eleitoral, só sobrarão promessas: do governo, anunciando novos investimentos e concessões, e da oposição, oferecendo mudanças e prosperidade fáceis aos eleitores. A economia, no melhor cenário, seguirá como em 2013. Não haverá 2014. Para o reencontro com a realidade, aguarde por 2015, se puder.
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