O GLOBO - 28/12
Felizmente, a presidente Dilma Rousseff parece ter se dado conta de que é preciso mudar o padrão de relações com o setor privado para atrair investimentos
As vendas de Natal frustraram os lojistas de shopping centers, que previam aumento bem superior aos 5% registrados em comparação ao ano passado. Não é um resultado ruim, mas o índice sugere outra reafirmação do esgotamento da opção pelo crescimento econômico baseado em estímulos ao consumo, com privilégios ao endividamento das famílias.
Trata-se de uma escolha política que pode ter tido seu momento adequado em passado já longínquo. No entanto, o panorama mudou completamente. O mundo é outro, com o epílogo da crise à vista, mas o Brasil continua o mesmo: mantém uma política conservadora dos desequilíbrios fiscal e monetário, com acentuada perda de poder de competição nos mercados internacionais e imobilizado diante de equações determinantes ao futuro, como as das reformas para redução nos custos trabalhistas e empresariais, entre outras.
O cenário se complica. O prêmio pelos títulos da dívida dos Estados Unidos está subindo — alcançou o patamar de 3% —, e, num prenúncio de fim da crise, o banco central americano confirma a retirada gradual de incentivos aos consumo, sinalizando também com a elevação das taxas de juros. Começa uma etapa de repatriamento de capitais cuja migração o mercado dos EUA assistiu a partir dos anos 2007/2008.
Com um Produto Interno Bruto patinando na média histórica dos últimos trinta anos (em torno de 2%), travado nas relações internas pela escassa infraestrutura e pelo alto custo das transações econômicas domésticas, as perspectivas brasileiras não são exatamente formidáveis, como reza a propaganda oficial. Ao contrário, o país atravessou a última década isolado — e assim se mantém — de mais de três centenas de compromissos comerciais relevantes negociados no período. Impávido, viu nascer a Aliança do Pacífico e assiste à evolução do grande acordo EUA-União Europeia, apenas para citar dois exemplos do momento. Inerte, mantém-se atrelado ao Mercosul onde os dois maiores sócios — Argentina e Venezuela — parecem decididos a dar um salto no escuro em 2014, mesmo diante das advertências e evidências de que à frente existe apenas um precipício. E esse, já se sabe, será um custo adicional que o Brasil terá de enfrentar.
Felizmente, a presidente Dilma Rousseff parece ter se dado conta de que é preciso mudar o padrão de relações com o setor privado para atrair investimentos. Os leilões recentes, para obras de infraestrutura, e a simples decisão de viajar à Suíça em meados de janeiro, para tentar “vender” o Brasil a investidores reunidos em Davos, sugerem um reconhecimento sobre a necessidade de mudança de curso. Será preciso, antes de tudo, trabalho. Mesmo em meio a uma campanha para a reeleição, que se anuncia dura, ela tem o dever de conduzir a mudança que o país há muito tempo espera.
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