FOLHA DE SP - 12/11
RIO DE JANEIRO - Há um ano ou mais, não havia conversa sobre as eleições de 2014 no Rio que não terminasse no nome de José Mariano Beltrame. Ele era cortejado para ser o candidato à sucessão de Sérgio Cabral, era o vice dos sonhos de Luiz Fernando Pezão, era referência indispensável até para candidatos de oposição, que se apressavam em garantir que a política de criação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) estava garantida. Agora que a disputa começa a esquentar, soa um tanto irônico que o próprio governo Cabral comece a tirar a principal marca de sua gestão da vitrine.
O desabafo feito pelo comandante das UPPs, coronel Frederico Caldas, para quem a morte, sob tortura, do pedreiro Amarildo de Souza "destruiu a confiança dos moradores", é simbólico. Assim também é a intrigante "promoção" do delegado que iniciou as investigações sobre o desaparecimento do pedreiro. Encerradas as apurações que levaram 25 colegas à cadeia, Orlando Zaccone, há 14 anos na polícia, foi tirado da Gávea para assumir um posto em Ricardo de Albuquerque, na zona norte, quase na Baixada Fluminense...
Soa injusto, porém, colocar na conta do destino do ex-pedreiro toda a crise de credibilidade que ronda as UPPs. A impressão que se tem, isto sim, é a de que, após Amarildo, o programa começou a ser visto com outra lupa. A sequência de tiroteios em favelas como a da Rocinha e a do Complexo do Alemão, com comércio fechado e relatos de moradores apreensivos, prova isso tanto quanto o ranking elaborado pelas próprias chefias das UPPs mostrando que só duas mereceram um "verde", de nível bom.
A revelação, por esta Folha, de que o governo Cabral decidiu "congelar" a criação de novas unidades pelos próximos sete ou oito meses não prova nenhum fracasso. É evidente que a política das UPPs trouxe uma série de ganhos ao Rio. E repensá-la, mais do que salutar, é preciso.
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