O GLOBO - 06/11
Se não houver acidentes, a UE e os EUA podem, a médio prazo, iniciar um ciclo de expansão sincronizada, cumprindo um papel que estava reservado a emergentes
O abrupto profundamento da crise financeiro-imobiliária americana, em setembro de 2008, na quebra do Lehman Brothers, deflagrou a maior debacle mundial desde a Grande Depressão, na década de 30 do século passado, e nela a Europa foi a região mais atingida.
Devido a falhas estruturais no projeto do euro, em que economias foram associadas antes da montagem de instituições capazes de tratar o bloco com uma federação de fato — algo como construir um prédio a partir da cobertura —, a União Europeia, na parte da moeda única, passou por situações dramáticas, próximas à ruptura social.
Sem condições de praticar desvalorizações cambiais capazes de manter suas economias competitivas — afinal, as moedas nacionais foram substituídas pelo euro —, países de nível de desenvolvimento/produtividade muito abaixo do principal pilar do euro, a Alemanha, foram, e são, os mais castigados. Grécia, Espanha, Portugal, Chipre e Irlanda estão na lista do calvário.
Experimentaram recessões extraordinária e taxas de desemprego espantosas, próximas de 50% entre jovens. Pois foram forçados a praticar duros ajustes internos, para reduzir o salário médio real e outros fatores de custo, que poderiam ser podados de forma menos dolorosa por meio de uma grande desvalorização cambial. Já a alternativa de abandonar o euro seria pior, porque, automaticamente, todas as dívidas, expressas em euro, virariam pó, gerando um cataclismo bancário na Europa e no mundo talvez maior que o gerado pelo fechamento das portas do Lehman Brothers.
Passados três anos, há, enfim, sinais, ainda que tímidos, de recuperação econômica na zona do euro da União Europeia. Eles ainda precisam se firmar, tanto que a Comissão Europeia reduziu a estimativa de expansão do bloco, para o ano que vem, de tênue 1,2% para tímido 1,1%.
Mas, considerando-se o efetivo terremoto econômico que atingiu a região, é um alento. Sequer outras grandes economias do continente — França e Itália — deixaram de enfrentar perda de dinamismo na produção e alto desemprego.
Um dos sinais emblemáticos de que o pior deve ter passado é que a Espanha, uma das maiores vítimas da crise, começa a movimentar para frente a economia: no terceiro trimestre, o país cresceu 0,1% em relação aos três meses anteriores. E é sintomático que haja compradores de títulos “podres” de empresas imobiliárias, algumas das mais atingidas na crise — a bolha especulativa imobiliária da Espanha foi talvez a maior da Europa. O próprio Bill Gates (fundador da Microsoft) tornou-se acionista de uma construtora no país.
Há, então, a possibilidade de em 2014 ou 2015 Europa e Estados Unidos — também em fase de ensaio de crescimento — entrarem em um ciclo de expansão sincronizada. O resto do mundo agradecerá, diante da anemia demonstrada por emergentes como o Brasil.
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