FOLHA DE SP - 06/11
Presidente manda seus ministros defender política econômica, mas tiro sai pela culatra
DILMA ROUSSEFF está uma arara com a mais recente onda de esculhambação de sua política econômica, em particular a fiscal (isto é, que diz respeito a gasto do governo e impostos). As críticas não teriam fundamento, seriam um exagero injusto e mesmo uma traição.
Afinal, diz-se no Planalto, a poupança do governo neste ano será menor devido ao crescimento lerdo, "dado o contexto mundial", e à grande redução de impostos, "reivindicação do empresariado", que agora cuspiria no prato que comeu ao criticar as contas da administração Dilma.
A presidente mandou a elite da tropa defender as contas do governo do marolão de críticas que se levantou desde quinta-feira passada, quando saiu o mau resultado fiscal de setembro.
O ministro Guido Mantega (Fazenda), a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e o secretário do Tesouro, Arno Augustin, deram então entrevistas aos principais jornais do país, publicadas ontem. Não colou.
Mantega, Gleisi e Augustin deram algum azar. Levaram um caldo da onda de alta do dólar, que vinha se formando nos últimos dias, com escassa relação com o país. Os juros no mercado americano voltaram a subir faz uns dez dias, assim como a conversa sobre a mudança na política monetária, o que costuma chutar o dólar para cima, por aqui.
Mantega, Gleisi e Augustin, no entanto, deram chance para o azar. Ruídos, contrastes e confrontos nas declarações de ministros e secretário parecem ter dado impulso adicional ao salto do dólar, entre outras manifestações reais e imediatas de insatisfação com o tom da conversa governista.
Mantega não disse nada de muito novo: que o governo vai ser mais comedido em gastos e endividamento. Augustin como que chamou o pessoal para a briga, acusando economistas e jornalistas de causar um marolão artificial de mau humor. Ficou mais difícil entender o que disse a ministra da Casa Civil, o que também não pegou bem.
Em entrevista a esta Folha, Gleisi Hoffmann disse que defende um "sistema de bandas" para o superavit primário, a meta de poupança do governo. Isto é, grosso modo, o governo pouparia mais em anos bons e gastaria mais em anos ruins para o crescimento econômico, dentro de certos limites.
Ou Gleisi choveu no molhado (o governo já adota uma espécie de banda) ou propôs política algo diferente daquela tocada pelo ministro da Fazenda. O "mercado" não gosta nem de uma coisa nem de outra; a confusão extra não serviu para aumentar a simpatia.
Não vai ser com essa conversa que o governo vai mudar os humores da praça do mercado, dos donos do dinheiro grosso, em suma. O "mercado" simplesmente acha que gasto extra do governo dá em mais inflação e deficit externo, o que vai dar em dólar mais caro, talvez ainda mais caro quando virar a biruta dos juros nos EUA. Vota com os pés, levando e trazendo dinheiro, tanto faz a mera palavra do Planalto.
De resto, não existe tal coisa como o "empresariado" que o governo pretendeu adular e por quem se sente agora "traído", história quase incrível de ingenuidade juvenil ou amadorística. Há interesses e ideias conflitantes no "empresariado" e, enfim, empresários podem muito bem cavar benesses para si no governo e fazer troça da política econômica.
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