FOLHA DE SP - 26/11
Ainda não se descarta que a previsão pessimista de Pelé sobre o Bom Senso F. C. mostre-se acertada. É possível que, no fim das contas, nada mude na organização do futebol nacional. A cada nova rodada do Campeonato Brasileiro, no entanto, os jogadores têm colhido motivos para perseverar.
Com dois meses de atuação, o Bom Senso já conquistou feito inédito ao unir uma categoria tradicionalmente desunida. O movimento, que nasceu com 75 jogadores, hoje agrupa mais de mil atletas profissionais. Dias antes dos jogos, cerca de 150 deles trocam constantes mensagens pelo telefone celular.
O resultado é óbvio em campo. Logo após o início das partidas, todos os atletas em todos os jogos manifestam-se uniformemente de maneira simbólica. Na última rodada, sentaram-se no gramado.
O gesto resume uma de suas bandeiras. Querem aprimorar o irracional calendário do futebol brasileiro, diminuindo o número de jogos na elite e aumentando o dos times menores; ampliando as férias e a pré-temporada.
Ademais, o Bom Senso propõe o "fair play financeiro": defende que os clubes gastem menos do que arrecadam e honrem seus pagamentos --incluindo salários-- em dia.
Diante de demandas tão sensatas e confrontada com uma força inédita, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) se viu compelida a agir. Anteontem, divulgou proposta com mecanismos para zerar a dívida dos clubes e monitorar sua saúde financeira.
É um começo, sem dúvida, mas a luta dos jogadores merece apoio para chegar mais longe. Em entrevista à revista "Veja", Paulo André, zagueiro do Corinthians e líder do movimento, acerta ao descrever a estrutura do futebol brasileiro como "emperrada, enferrujada".
Os atletas que voltam ao país depois de atuar na Europa, diz o ex-jogador do Le Mans (França), são os que percebem com mais clareza a precariedade do futebol nacional. Merece atenção sua sugestão de que o Brasil adote o modelo inglês, no qual a CBF cuidaria apenas da seleção, deixando os campeonatos para uma liga de clubes.
Mudar não será fácil, mas o Bom Senso tem demonstrado que o ceticismo --que nunca foi só de Pelé-- é cada vez menos justificável.
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