O Estado de S.Paulo - 13/11
O empresário se pergunta se é melhor antecipar remessas de moeda estrangeira ou liquidar uma dívida no exterior; o exportador desconfia de que é preciso segurar ao máximo seus dólares lá fora para receber mais reais dentro de alguns meses; as pessoas físicas consultam os administradores de patrimônio se não seria melhor comprar cotas de fundos de investimento lastreados em evolução cambial para defender sua carteira.
Essa gente ou já está apostando ou pode fazer suas apostas em mais forte desvalorização cambial (alta do dólar) nos próximos meses. Essas previsões podem dar errado, uma vez que o mercado financeiro está sempre sujeito a muitas influências, cada uma puxando para um lado, como um gigantesco cabo de guerra.
Feita a ressalva, parece razoável admitir que as forças que atuam pela desvalorização do real diante do dólar estão cada vez mais fortes e tendem nesse rumo.
O primeiro desses fatores é a proximidade da reversão da política monetária (tapering) do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). À medida que a torneira for sendo fechada, menos dólares fluirão para o mercado e mais o dólar tende a se valorizar diante das outras moedas. Cada vez que se acumulam evidências sobre o início desse processo, o mercado financeiro global entra em convulsão que envolve todos os ativos e não só as moedas.
Uma das indicações de que o início do novo jogo pode acontecer a partir de fevereiro é a troca da presidência do Fed: sai Ben Bernanke, entra Janet Ellen.
O segundo fator que empurra empresas e pessoas mais para o lado do dólar do que para as aplicações em reais é a rápida deterioração das contas externas no Brasil. O rombo em conta corrente (fluxo de mercadorias, serviços e transferências) era de apenas US$ 54,2 bilhões (2,4% do PIB) no final de 2012 e saltará no fim deste ano para perto dos US$ 80,5 bilhões (3,6% do PIB). A entrada de capitais já não cobre a diferença e a necessidade de mais dólares para pagar as contas está crescendo.
Há outra fonte de incertezas com propensão para empinar o dólar no câmbio interno. São as tensões eleitorais que se aproximam e a possibilidade de que um ajuste rigoroso fique inevitável a partir de 2015, com toda a ração de incertezas que advêm dele. É provável que entre as providências de ajuste esteja certa desvalorização do real, de modo a dar mais competitividade ao setor produtivo.
Claro, neste cenário há outras forças que puxam em direção contrária. Há, por exemplo, o Banco Central cuja atuação poderá segurar o câmbio, se não por outra razão, pelo menos para evitar mais inflação. E para ganhar o apoio de segmentos formadores de opinião, os candidatos à Presidência da República poderão comprometer-se com políticas econômicas mais austeras e mais confiáveis, como ocorreu em 2002, com o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
Previsões, quaisquer que sejam, estão sujeitas a erro. Difícil antecipar com precisão qual é a resultante desse jogo de forças opostas e em que períodos se acentuará. Mas o mercado financeiro é feito de apostas. Quem está se defendendo agora em dólares aposta na alta.
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