quarta-feira, outubro 09, 2013

Suspirar é preciso - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 09/10

O Cruzeiro, melhor time deste Campeonato Brasileiro, é, coletivamente, superior ao time de 2003


Durante a noite, Fernando Pessoa e seus heterônimos repousam no Mosteiro dos Jerónimos, em Belém, ao lado dos maiores personagens da história de Portugal. De dia, eles vagueiam pelas livrarias e cafés de Lisboa. Parafraseando o poeta, "Tabacaria" pode não ser o mais belo poema da literatura mundial, mas é, para mim, o mais belo, pois é o que mais gosto.

Já o Cruzeiro não é o mais belo time do Brasileiro somente porque é o time que mais gosto e que tenho mais laços afetivos. É, indiscutivelmente, o melhor. Todos ou quase todos concordam.

O Cruzeiro é, coletivamente, superior ao time de 2003. Joga no estilo das melhores equipes do mundo. No ano passado, era o Corinthians. Já o Atlético-MG, na Libertadores, quando era o melhor time brasileiro, tinha um estilo próprio, o "Galo Doido". Privilegiava os lançamentos longos, os chutões e lances aéreos. Dava certo, mas não tinha nada de moderno.

Há muitas maneiras de vencer, mas são poucas as de encantar, de suspirar, como tem feito o Cruzeiro, mesmo para quem não é cruzeirense, com exceção dos atleticanos. O encanto não entra na estatística.

Já o Grêmio, com seu estilo pesado, defensivo, também eficiente, só faz suspirar seus torcedores. Além disso, se a maioria das principais equipes não estivesse tão mal, o Grêmio, com a campanha atual, não seria vice-líder.

Contra o Botafogo, Kleber foi, mais uma vez, violento, independentemente da simulação do zagueiro Dória. Criticaram a simulação e se esqueceram da deslealdade do atacante gremista.

Se Kleber se preocupasse sempre em jogar futebol, como tem feito na maior parte do campeonato --ele tem atuado bem--, poderia ter uma carreira brilhante. Mas o que mais agrada a ele e à parte dos treinadores e da imprensa são o confronto físico, os lances agressivos (confundem com raça) e a simulação, para cavar faltas, pênaltis e para provocar a expulsão de seus marcadores.

Assim como é comum o bairrismo, em todos os estados, e o preconceito, de todos os tipos, no futebol e na vida são frequentes o bairrismo e o preconceito às avessas. Para aumentar a audiência e mostrar que não são bairristas nem preconceituosos, muitos excedem os elogios a treinadores, times e jogadores de outros estados.

Parabéns aos jogadores pela criação do Bom Senso F.C. O futebol brasileiro precisa de grandes mudanças, e não apenas de um calendário. Para isso, é necessário ter uma entidade transparente e independente, que comande o futebol de acordo com os interesses do futebol e que, a partir daí, atraia os investidores. Futebol é também negócio.

O que não se pode é fazer o contrário, passar o comando a empresas e a investidores, como tem feito a CBF, mesmo que eles paguem caro e sejam os melhores do mundo.

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