quarta-feira, outubro 09, 2013

Poder & expectativa - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 09/10


O ingresso de Marina Silva no PSB deixou meio embaçado o movimento dos bastidores em torno da reforma ministerial em desenho no Palácio do Planalto. Embora ninguém diga de público que a presidente esteja trabalhando nisso, a avaliação está em curso e os partidos, obviamente, têm lá suas expectativas de poder.

O PTB, por exemplo, aguarda o prometido ministério. Há alguns meses, quando o ex-deputado Benito Gama, da Bahia, assumiu a presidência do partido, foi combinado com o governo que a vaga de primeiro escalão que ficasse desocupada seria entregue ao partido. Surgiu o Ministério da Integração Nacional e a presidente Dilma preferiu um técnico. Menos de 10 dias depois, foi a vez da Secretaria de Portos ficar disponível. Mais uma vez, a presidente escolheu um técnico da área.
Os petebistas observam esses movimentos com a suspeita de que a subida de Dilma nas pesquisas de intenções de voto deu a ela espaço suficiente para dispor do governo a seu bel prazer até que, ali na frente, em dezembro, chegue a hora de segurar aliados. Há ainda a desconfiança de que, mesmo se abrir algumas vagas aos partidos, isso ficará restrito à cabeça, deixando os cargos de segundo escalão nas mãos de técnicos.

O líder do PMDB, Eduardo Cunha, repete quase que diariamente que seu partido tem ministros, mas não tem ministérios. O PR, por exemplo, ressente-se do fato de Dilma ter nomeado César Borges ministro dos Transportes, numa estrutura que o partido não pode dispor. O PP, nas Cidades, também faz as mesmas reclamações. O PTB só não está incluído nesse rol porque não tem um ministério para chamar de seu.

Enquanto isso, no Congresso...
A expectativa de angariar espaços de poder, entretanto, mantém todos os partidos fechados com o Planalto. Nenhum deles hoje se mostra disposto a apoiar outras candidaturas a presidente da República porque, apesar de toda a movimentação dos últimos dias, nada leva à certeza de que Dilma perderá a eleição. Ao contrário. Hoje, quando se conversa com qualquer político, todos dizem que a disputa será difícil, mas a maioria considera que a presidente terá a vantagem. Há quem diga, inclusive, que ela nadará de braçada na hora do vamos ver.

Hoje, entretanto, esses apoios dependem mais da forma como a presidente e o PT tratarão seus aliados do que qualquer outro ingrediente. Se Dilma daqui para frente desdenhar os partidos ao ponto de tratá-los como subalternos, ela verá os aliados migrarem para outros projetos em qualquer hipótese. Se a presidente estiver em paz com as ruas e com o eleitor de um modo geral, essa migração será discretíssima. Se o eleitor, no entanto, demonstrar algum mau humor para com o Planalto, a debandada será à luz do dia.

A primeira nota dessa rebeldia já está em curso. Deputados e senadores estão irados com as tentativas do governo de retardar a aprovação do orçamento impositivo e, por conta disso, o PMDB, por exemplo, está em greve declarada na Comissão Mista de Orçamento. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que deveria ter sido votada em julho, está pendente até hoje. O Orçamento, então, nem se fala. E pensar que, nos Estados Unidos, nem funcionário recebe quando o Orçamento não sai. Se aqui fosse assim, todo o serviço público estaria fadado ao colapso em pleno ano eleitoral. Afinal, as expectativas de aprovação da lei orçamentária até dezembro são cada vez mais remotas. Mas essa é outra história.

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